sexta-feira, 2 de maio de 2014

Identificação indireta do segundo limiar de transição fisiológica e do limite superior do domínio pesado de intensidade de exercício

Paulo Cesar do Nascimento
Anderson Santiago Teixeira
Kristopher Mendes de Souza
Luiz Guilherme A Guglielmo

INTRODUÇÃO
O máximo estado estável de lactato e a velocidade/potência crítica (VC) são as variáveis fisiológicas consideradas padrão ouro para determinação da capacidade aeróbia (Carter et al., 2002; Greco et al., 2012). Essas variáveis, segundo alguns autores, demarcam os domínios fisiológicos pesado e severo (Carter et al., 2002; Greco et al., 2012). Entretanto, para que as mesmas sejam determinadas é necessária à realização de vários testes preditivos, demandando, dessa forma, muito esforço e tempo por parte dos avaliados (Greco et al., 2012).
Nesse contexto, para simplificar a determinação destas variáveis, alguns métodos têm sido propostos a partir de um único teste incremental (Dekerle et al., 2003; Lansley et al., 2011). A determinação do segundo limiar ventilatório (LV2) é um destes métodos (Dekerle et al., 2003) e pode ser utilizado para identificar o segundo limiar de transição fisiológica (LTF). Por outro lado, como uma alternativa, alguns estudos têm investigado as respostas fisiológicas nos domínios pesado e severo a partir de intensidades determinadas por meio do método delta (Δ) (Lansley et al. 2011). O método Δ considera o consumo de oxigênio (VO2) no primeiro LTF (encontrado por meio do limiar de lactato ou do primeiro limiar vetilatório - LV1) e o consumo máximo de oxigênio (VO2max) (Lansley et al., 2011). De acordo com a literatura (Lansley et al., 2011), o limite superior do domínio pesado encontra-se no Δ50, ou seja, na intensidade de exercício correspondente a 50% da diferença entre o VO2 no primeiro LTF e o VO2max. Dessa forma, o objetivo desse estudo foi analisar se existe diferença entre o Δ50 e LV2 em atletas amadores de futsal com diferentes valores de potência aeróbia máxima.

MATERIAIS E MÉTODOS
Participaram deste estudo 18 atletas amadores de futsal (idade 20,6±5,8 anos; estatura 177,6±6,2 cm; massa 73,4±9,7 kg, % de gordura 13,7±4,3 %) divididos em dois grupos: 1) potência aeróbia moderada (n= 9; VO2max = 53,62±2,51 ml.kg.min-1; PV = 17,13±1,28 km.h-1) e  2) potência aeróbia alta (n= 9; VO2max = 61,41±2,43 ml.kg.min-1; PV = 18,33±1,07 km.h-1). Todos os indivíduos realizaram um teste incremental de rampa para determinar o primeiro e o segundo limiar ventilatório (LV1 e LV2), 50 % da diferença entre o LV1 e o consumo máximo de oxigênio (VO2max) (Δ50), o VO2max e o pico de velocidade (PV). O teste de rampa em esteira (IMBRAMED) iniciou na velocidade de 6,0 km.h-1 com incrementos de 0,5 km.h-1 cada 30 s até exaustão voluntária. Os dados coletados respiração a respiração (COSMED, Quark) foram colocados em médias de 15 s. Avaliou-se o comportamento do volume de gás carbônico produzido (VCO2) plotado versus o oxigênio consumido (VO2) (método V-slope) para identificar o LV1 e, os equivalentes ventilatórios de VO2 (VE/VO2) e do CO2 (VE/VCO2) plotados versus o tempo para encontrar o LV2.


A maior média de 15 s foi considerada o VO2max. O PV foi considerado a maior velocidade atingida durante o teste. A velocidade do Δ50, identificado conforme descrito previamente, foi encontrada por meio de uma regressão linear substituindo o y da equação pelo VO2 estimado para assim obter o valor de x da velocidade.
As análises estatísticas foram realizadas no programa SPSS versão 17.0. Os dados são apresentados em média ± desvio padrão (DP). Foi utilizado o teste Shapiro Wilk para verificar a normalidade dos dados (n < 50) e o teste t de Student para amostras pareadas para verificar as possíveis diferenças entre as variáveis. Adotou-se um nível de significância de 5 %.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 estão apresentados os valores médios para a velocidade e VO2 correspondente ao LV2 e Δ50 acompanhado dos seus percentuais relativos ao PV e VO2max, respectivamente. 

Pode-se observar que no grupo 1 os valores absolutos e percentuais da velocidade e VO2 associados ao Δ50 foram significativamente inferiores aos valores encontrados para o LV2. Por outro lado, para o grupo 2 não foram visualizadas nenhuma diferença entre os valores associados ao Δ50 e LV2 para qualquer variável de análise.
Em comparação com o estudo de Lansley et al. (2011) nossa investigação demonstrou que o Δ50 pode ser utilizado como limite superior do domínio pesado em indivíduos com valores mais altos de potência aeróbia considerando o LV2 como indicador desse fenômeno (Dekerle et al., 2003). Porém, a utilização desse método parece dependente da aptidão aeróbia e ao contrário do que tem sido proposto por parte da literatura (Dekerle et al., 2003; Lansley et al., 2011) o Δ50 não representa o LV2 e não parece ser apropriado para identificação do LTF2 em acordo com estudo de Carter et al. (2002) que demonstrou que na corrida como modo de exercício o Δ40 seria o melhor indicador da VC e assim do LTF2.

CONCLUSÕES
Conclui-se que método do Δ50 parece ser dependente da potência aeróbia máxima e que para os indivíduos com maiores valores desta (≈ 60 ml.kg.min-1) pode ser utilizado para estimar o LV2, entretanto, não seria indicado para predição do LTF2 em sujeitos com menores valores de potência aeróbia.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos atletas, aos membros do LAEF pelo auxílio e a CAPES pelo apoio financeiro.

Fiquem com Deus e até a próxima!

REFERÊNCIAS
Carter H et al. Eur J Appl Physiol, 86(4):347-354, 2002.
Dekerle J et al. Eur J Appl Physiol, 89(3-4):281-288, 2003.
Greco CC et al. Appl Physiol Nutr Metab, 37(4):736-743, 2012.
Lansley KE et al. Int J Sports Med, 32(7):535-541, 2011.

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