segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Existe relação da capacidade de sprints repetidos intermitentes com a aptidão aeróbia em jogadores de futsal?

Autores: Paulo Cesar do Nascimento; Juliano Fernandes da Silva; Priscila Cristina dos Santos; Luiz Guilherme antonacci Guglielmo.


INTRODUÇÃO
A relação entre aptidão aeróbia e a capacidade de sprints repetidos (CSR - sprints máximos com duração <10s e com intervalo <60s) – (GIRARD et al., 2011) tem sido demonstrada na literatura (SILVA et al., 2011). Contudo, a duração dos estímulos e o tempo de recuperação entre os sprints parecem apresentar influência nesta associação (GIRARD et al., 2011). Dessa forma, o objetivo deste estudo foi verificar se a capacidade (segundo limiar ventilatório - LV2) e a potência aeróbia (consumo máximo de oxigênio – VO2max; Pico de velocidade – PV) estão relacionadas com a CSR a partir de um teste com sprints longos (~10s) e recuperação longa (~60s) em jogadores amadores de futsal.

MATERIAIS E MÉTODOS
Participaram deste estudo 15 atletas amadores de futsal (idade 21,9 ± 6,1 anos; estatura 178,3 ± 6,2 cm; massa 75,1 ± 9,8 kg, % de gordura 13,8 ± 3,7 %) que realizaram um teste incremental de rampa para determinar o LV2, VO2max e o PV e; o teste de capacidade de CSR para determinar o melhor tempo (MT), tempo total (TT) e o índice de fadiga (IF) calculado da seguinte forma: [100* (TT/MT *6)] - 100. O teste de rampa em esteira iniciou na velocidade de 6,0 km.h-1 com incrementos de 0,5 km.h-1 cada 30s até exaustão voluntária. Os dados coletados respiração a respiração (COSMED, Quark) foram colocados em médias de 15 s. Avaliou-se o comportamento do volume de gás carbônico expirado (VCO2) plotado versus o oxigênio inspirado (VO2) (método V-slope) e, os equivalentes ventilatórios de O2 (VE/VO2) e do CO2 (VE/VCO2) plotados versus o tempo para encontrar o LV2. A maior média de 15 s foi considerada o VO2max. O PV foi considerado a maior velocidade atingida durante o teste. O teste de CSR consistiu de seis sprints de 40 m com mudança de sentido de 180º a cada 10 m e recuperação passiva de 60 s entre cada sprint. Antes da realização do teste os atletas executaram um aquecimento padronizado com diferentes deslocamentos, alongamentos e alguns sprints curtos com duração de 15 minutos.  Os tempos foram obtidos por meio de um par de fotocélulas (Speed test, CEFISE 4.0) e durante todo o teste a frequência cardíaca (FC) foi mensurada por meio de um frequêncimetro (Polar). No final do teste foram coletadas amostras de sangue capilar (25 µL) do lóbulo da orelha nos minutos três e cinco para verificar as concentrações de pico do lactato sanguíneo ([La]). As amostras foram armazenadas em microtubos (Eppendorff) contendo 50 μL de solução de NaF 1% e armazenado em gelo. A análise foi realizada por intermédio de um analisador bioquímico (YSI 2700, modelo Stat Select).  As análises estatísticas foram realizadas no programa SPSS versão 17.0. Os dados são apresentados em média ± desvio padrão (DP). Foi utilizado o teste Shapiro Wilk para verificar a normalidade dos dados (n < 50) e a correlação linear de Pearson para verificar as possíveis correlações entre as variáveis. Nível de significância adotado de 5 %.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores encontrados durante os testes de rampa para o LV2, VO2max e PV foram 14,1 ± 0,9 Km.h-1; 57,2 ± 4,8 ml.kg.min-1 e; 17,9 ± 1,2 Km.h-1, respectivamente. Os valores de performance obtidos durante o teste de CSR foram os seguintes: MT = 9,46 ± 0,25 s; TT = 58,34 ± 2,90 s; IF = 1,67 ± 0,70 %. A FC final do teste de CSR foi 170 ± 9 bpm. As [La] foram 10,5 ± 2,4 m.mol.L-1. As correlações entre os índices de capacidade e potência aeróbia com as variáveis de performance do CSR estão apresentadas na tabela 1.  O MT mostrou ter uma correlação moderada com o PV, porém todas as outras variáveis de capacidade de sprints repetidos não mostraram associação com a aptidão aeróbia. Ainda, quando se analisou as possíveis relações dos tempos (MT e TT) e o IF com a FC final e as [La], apenas o IF demonstrou correlação com a FC final (r = 0,56; p = 0,02).


CONCLUSÕES
Apesar de alguns estudos terem encontrado relação entre aptidão aeróbia e a capacidade de sprints repetidos, estes foram evidenciados com sprints de menor duração, bem como uma maior recuperação em comparação ao presente estudo. Desta forma, como não houve relação entre a aptidão aeróbia e a capacidade de sprints repetidos de ~10 s e recuperação de ~60 s, esta parece ser dependente da duração e recuperação dos sprints.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos atletas do estudo pela participação na pesquisa, aos membros do LAEF pelo auxílio na coleta de dados e a CAPES pelo apoio financeiro.

ABRAÇOS A TODOS, FIQUEM COM DEUS, UM FELIZ NATAL E UM ABENÇOADO ANO NOVO! ATÉ A PRÓXIMA...

REFERÊNCIAS

Girard O et al. Sports Med, 41(8):673-694, 2011.
Silva JF et al. Rev Bras Cineantropom Desempenho hum, 13(5):384-391, 2011. 
  




segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A CAPACIDADE E POTÊNCIA AERÓBIA CONTRIBUEM PARA PERFORMANCE ANAERÓBIA LÁTICA DE JOGADORES DE FUTSAL?

Paulo Cesar do Nascimento / CDS-UFSC
Anderson Santiago Teixeira / CDS-UFSC
 Kristopher Mendes de Souza / CDS-UFSC

Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo / CDS-UFSC

INTRODUÇÃO
No futsal, a realização de esforços de alta intensidade e curta duração (ex: sprints, 1 x1, saídas de pressão) depende principalmente do sistema anaeróbio alático. Entretanto, nas ações de transição ataque-defesa e contra-ataques sucessivos, o sistema predominante é o anaeróbio lático. Contudo, o metabolismo aeróbio participa significativamente em aproximadamente 90% de todas as ações dos jogadores durante uma partida de futsal (MEDINA et al., 2002; BARBERO ÁLVAREZ; BARBERO ÁLVAREZ, 2003; BARBERO ÁLVAREZ et al., 2008).
Considerando que o futsal é um desporto com constantes sprints em contra-ataques, saltos para cabeceios e movimentações rápidas para se livrar ou realizar marcação os atletas executam esforços com um nível de exigência muscular elevado, solicitando a mobilização máxima das capacidades específicas da modalidade como aceleração, velocidade e agilidade (BARBERO ÁLVAREZ et al., 2008). Dessa forma a avaliação específica e o entendimento claro dos índices fisiológicos envolvidos na prática do futsal são de suma importância para o aprimoramento da prescrição do treinamento na modalidade. Assim a hipótese do presente trabalho é que a capacidade aeróbia e potência aeróbia poderão explicar conjuntamente a variação da performance anaeróbia visto que estas participam ativamente durante e na recuperação dos esforços de alta intensidade deste esporte (MEDINA et al., 2002).
Portanto o objetivo do presente estudo foi analisar a influência dos índices fisiológicos de capacidade (vLAn) e potência aeróbia (VO2max; vVO2max) na performance anaeróbia lática obtida no teste de capacidade do sprints repetidos.
  
METÓDOS
Participaram deste estudo doze jogadores de futsal da categoria sub20 de uma equipe de nível nacional do Brasil (18,6 ± 0,4 anos, 173,4 ± 4,0 cm, 68,4 ± 5,4 kg, 13,6 ± 3,6 % de gordura corporal). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (protocolo – 224/08). Os participantes foram previamente instruídos sobre os procedimentos técnicos referentes às avaliações assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.
Os jogadores foram instruídos a chegar aos testes em totais condições de hidratação e alimentação e, não realizar nenhum tipo de treinamento 24 h antes de cada teste. Todos os testes foram realizados no mesmo período do dia. Os testes foram realizados com um intervalo de no mínimo 48h entre cada um deles. Para a caracterização da amostra foram realizadas as avaliações antropométricas que seguiram os procedimentos definidos em Petroski (2007). O percentual de gordura corporal foi estimado a partir da equação de sete dobras cutâneas proposta por Jackson e Pollock (1978) específica para atletas do sexo masculino.
No primeiro dia os atletas realizaram um protocolo incremental em esteira rolante (IMBRAMED SUPER ATL, Porto Alegre, Brasil) para determinação do consumo máximo de oxigênio (VO2max). A velocidade inicial foi de 9 km.h-1 (1% de inclinação), com incrementos de 1,2 km.h-1 a cada 3 min até a exaustão voluntária. Entre cada estágio, houve um intervalo de 30 s para a coleta de 25 µl de sangue do lóbulo da orelha para a dosagem do lactato sanguíneo por meio de um analisador eletroquímico (YSI 2700 STAT, Yellow Springs, OH, USA). O VO2 foi mensurado respiração a respiração durante todo o protocolo a partir do gás expirado (K4b2, Cosmed, Roma, Itália), sendo os dados reduzidos à média de 15 s. O VO2max foi considerado como o maior valor obtido durante o teste nestes intervalos de 15 s. A velocidade associada ao VO2max (vVO2max) foi considerada como sendo a menor velocidade de corrida, na qual ocorreu o VO2max. A velocidade referente ao limiar anaeróbio (vLan) foi determinado como sendo a velocidade correspondente a concentração fixa de lactato de 3,5 mmol.L-1, conforme proposto por Heck et al. (1985).
No segundo dia de avaliação os jogadores realizaram o teste de capacidade de sprints repetidos (CSR) proposto por Bangsbo (1994), o qual é constituído por sete sprints máximos de 34,2 m com três mudanças de sentido cada, intercalados com 25 s de recuperação. Os tempos foram mensurados por meio do sistema de fotocélulas (CEFISE® - Speed Test 6.0). Dentre as variáveis derivadas do teste de CSR, analisou-se somente o tempo total (TT) dos setes sprints como indicador de capacidade anaeróbia.
Para realização da análise estatística, foi utilizado o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS 17.0 for Windows). Os dados foram apresentados em média e desvio-padrão (DP). A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk (n<50 font="">A correlação entre o TT e VO2max, vVO2max e vLAn foi realizada pela análise de regressão linear simples e a múltipla utilizando o método Stepwise. Nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os valores dos índices de desempenho obtidos em protocolos de campo e de laboratório em jogadores de futsal sub20 estão descritos na Tabela 1.

Os valores de VO2max do presente estudo foram similares aos valores relatados por Baroni et al. (2011) em atletas profissionais adultos (≈ 23 anos) de futsal. Por outro lado, os valores de vVO2max e vLAn observados no estudo de Baroni et al. (2011) foram superiores comparado ao  presente estudo (17,1 vs. 15,2 km.h-1 e 14,9 vs. 12,4 km.h-1, para vVO2max e vLAn, respectivamente). As diferentes durações dos estágios do teste incremental adotado em cada estudo (1min vs. 3min), podem explicar em parte os maiores valores de potência e capacidade aeróbia apresentados por Baroni et al. (2011). Além disso, o TT no teste de CSR observado no presente estudo foi menor comparado ao estudo de Barbero Álvarez e Barbero Álvarez (2003) (47,5 ± 1,4 vs. 51,04 ± 1,29, respectivamente) realizado com jogadores profissionais adultos de futsal.


Os valores de correlação do TT no teste de capacidade de sprints repetidos com o VO2max, vVO2max e vLAn estão descritos na Tabela 2. Observaram-se correlações de magnitude nominal moderada a alta para as variáveis independentes e o TT (p<0 nbsp="" span="">Adicionalmente, os modelos de regressão linear simples mostraram que as variáveis independentes conseguem explicar individualmente entre 36% e 63% da variação inter-individual dos valores de TT em jogadores de futsal sub20 (tabela 2). Por outro lado, quando todas as variáveis independentes foram adicionadas no modelo inicial para realização da análise de regressão linear múltipla, os resultados mostraram que a vLAn foi a única variável preditora no modelo final, explicando aproximadamente 58,9% das variações nos resultados obtidos para o TT, enquanto o VO2max e vVO2max foram excluídas (p valor > 0,05).
Barbero Álvarez e Barbero Álvarez (2003) realizaram um interessante estudo com 12 atletas profissionais de futsal (idade ≈ 26 anos) com o objetivo de verificar a relação entre o VO2max (51,35 ml.kg.min-1) com tempo total (51,04 s) no teste de CSR e encontraram uma relação negativa significante entre as duas variáveis (r = -0,728). Ainda, quando os autores realizaram analise de regressão para verificar o grau de explicação do TT pelo VO2max encontraram um R2 de 0,52. O protocolo de sprints adotado no estudo citado foi igual ao do presente estudo, enquanto que, o VO2max ao contrário da presente pesquisa foi estimado por meio de um protocolo de campo, o que pode justificar em parte as diferenças encontradas nos resultados.
Portanto, com base no que foi demonstrado anteriormente na literatura por Barbero Álvarez e Barbero Álvarez (2003) e com os achados do presente estudo podemos aceitar a hipótese proposta e afirmar com base nesses resultados que a capacidade e a potência aeróbia podem explicar, ao menos em parte, a variação da performance anaeróbia lática.
  
CONCLUSÃO
Podemos concluir que na presente pesquisa a capacidade aeróbia foi a melhor preditora da capacidade anaeróbia lática. Ainda, pode-se considerar que a potência aeróbia tem uma influência importante na performance anaeróbia. Podem-se justificar esses achados pela necessidade de uma aptidão aeróbia aprimorada para otimizar a recuperação entre os inúmeros esforços máximos intermitentes realizados durante os jogos. Por fim, salienta-se a necessidade de outras pesquisas com propósitos similares para confirmar os presentes achados.

REFERÊNCIAS
BANGSBO, J. Fitness training in football – A scientific approach. 1ª ed. Baegsvard: H+O Storm, 1994.
BARBERO ÁLVAREZ, J. C.; BARBERO ÁLVAREZ, V. Relación entre él consumo de oxígeno y la capacidad para realizar ejercicio intermitente de alta intensidad en jugadores de fútbol sala, Revista de entrenamiento, v.17, n.2, p.13-24, 2003.
BARBERO ÁLVAREZ, J. C.; SOTO, V. M.; BARBERO ÁLVAREZ, V.; GRANDA-VERA, J. Match analysis and heart rate of futsal players during competition, Journal of Sports Science, v. 26, n.1, p.63-73, 2008.
BARONI, B. M.; COUTO, W.; LEAL JUNIOR, E. C. P. Estudo descritivo-comparativo de parâmetros de desempenho aeróbio de atletas profissionais de futebol e futsal. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 13, n.3, p.170–176, 2011.
HECK, H.; MADER, A.; HESS, G.; MUCKE, S.; MULLER, R.; HOLMANN, W. Justification of the 4mmol/l lactate threshold. International Journal of Sports Science, v.6, p.117-30, 1985.
JACKSON, A. S.; POLLOCK, M. L. Generalized Equations for Predicting  Body Density of Men. British Journal of Nutrition, v. 40, p. 497-504, 1978.
MEDINA, J. V.; SALILLAS, L. G.; VIRÓN, P. C.; MARQUETA, P. M. Necesidades cardiovasculares y metabólicas Del fútbol sala: análisis de La competición. Apunts Educación Física y Deportes, v.67, p.45-51, Jan, 2002.
PETROSKI, E, L. (Org). Antropometria: Técnicas e Padronizações. 3ª ed. Porto Alegre: Palotti, 2007.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Testes de campo utilizados para avaliação da capacidade de sprints repetidos

Durante uma partida de futebol, os jogadores desempenham diferentes tipos de exercício tais como corridas, chutes, saltos e movimentos envolvendo ações técnicas e táticas. O futebol requer a repetição de corridas alternadas com curtos períodos de recuperação, que podem ser ativos ou passivos, com a intensidade das ações alternando em qualquer momento de acordo com a demanda da partida (DUPONT; AKAKPO; BERTHOIN, 2004). Além disso, os momentos decisivos ou os gols são precedidos por movimentos de acelerações, sprints, ou ações de força explosiva.
Estas ações são caracterizadas, em sua maioria, como atividades anaeróbias, se analisadas isoladamente, contudo, a energia proveniente do metabolismo aeróbio é utilizada para 90% das movimentações dos jogadores de futebol, tornando-se um pré-requisito para esta modalidade (DA SILVA; DITTRICH; GUGLIELMO, 2011).
Diversas metodologias e protocolos têm sido propostos para avaliação aeróbia e anaeróbia de futebolistas com o objetivo de identificar os índices fisiológicos que podem explicar a performance da modalidade. Os cientistas do esporte podem, através dessas avaliações fisiológicas, analisar esses fatores e utilizar a informação para fornecer perfis individuais de seus respectivos pontos fortes e fracos. Estes dados podem formar a base para o desenvolvimento de estratégias de formação ideal (SVENSSON; DRUST, 2005).
Entre os testes mais utilizados nos últimos anos para avaliação no futebol destaca-se o crescente uso dos métodos de campo que possuem uma melhor validade ecológica, visto que levam em conta o princípio da especificidade, pois buscam reproduzir os movimentos utilizados durantes os treinos e jogos e ao contrario dos testes laboratoriais possuem um baixo custo para sua utilização (DA SILVA; DITTRICH; GUGLIELMO, 2011).
Além disso, entre os estudos que realizaram trabalhos de intervenção destaca-se o amplo uso de testes de campo para avaliar os diferentes componentes físicos (HELGERUD et al., 2001; FERRARI BRAVO et al., 2008; CHRISTENSEN et al., 2011).
Entretanto, constata-se que há uma lacuna na literatura de estudos que buscaram reunir o conhecimento atual existente na área sobre os testes de campo mais utilizados como instrumentos de avaliação em pesquisas que realizaram intervenção, quais os testes tem sido mais utilizados por esse tipo de investigação, e se estes instrumentos tem demonstrado algum tipo de validade ou reprodutibilidade. Este breve estudo abordará sobre os trabalhos mais recentes que realizaram treinamento com sprints repetidos e os métodos de avaliação utilizados pelos mesmos.
Esse artigo foi publicado previamente pela Universidade do Futebol e tem como autores Paulo Cesar Nascimento (eu), Tiago cetolin e o Jaelson Ortiz. Para continuar lendo sobre o assunto e ver o artigo na íntegra acesse:
Abraços a todos e fiquem com Deus! Até a próxima...

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

EFEITO DE QUATRO SEMANAS DE TREINAMENTO DE SPRINTS REPETIDOS SOBRE OS ÍNDICES FISIOLÓGICOS DE JOGADORES DE FUTSAL

Daiane Wormer, Paulo Cesar do Nascimento, Pablo Aguires, Francimara Budal Arins, Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo.

Introdução: A capacidade de repetir sprints (RSA), especialmente os desempenhados com mudanças de sentido, parecem ser uma estratégia eficiente para desenvolver alguns dos marcadores fisiológicos para os esportes coletivos e, pode ser adotado como um modelo de treinamento para melhorar o desempenho dos jogadores de futsal.

Objetivo: O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos do treinamento de sprints repetidos (RSA) sobre os índices fisiológicos de capacidade e potência aeróbia e performance anaeróbia em jogadores de futsal.
Materiais e métodos: Quatorze jogadores (16,7 ± 0,5 anos, 68,5 ± 6,6 kg, 176,6 ± 4,5 centímetros e 10,1 ± 4,0% de gordura) foram divididos em dois grupos: intervenção (n = 8) e controle (n = 6). Ambos os grupos realizaram os seguintes testes antes e depois de quatro semanas de treinamento: 1) capacidade de sprints repetidos (RSA) proposto por Baker et al. (1993);


2) teste incremental intermitente de campo (TCAR) proposto por Carminatti et al. (2004).

 O grupo controle manteve a rotina de treinos estabelecida pela comissão técnica e o grupo RSA foi submetido ao protocolo de sprints repetidos (3 séries de 6 x 40 m com mudança de sentido a cada 10 m, recuperação passiva de 4 min entre as séries e 20 s entre os sprints) duas vezes por semana. A análise de variância ANOVA mixed-model foi utilizada para verificar as diferenças sobre o tempo e entre os grupos. Valor de p < 0,05. O effect-size foi utilizado para caracterizar a significância prática das diferenças.

Resultados: Não foi observada interação significativa (tempo vs. Grupo) para as variáveis analisadas. Porém, em relação ao tempo houve diferença significante (p < 0.01) nos dois grupos para a velocidade do ponto de deflexão da frequência cardíaca obtida durante o teste incremental e para o pico de lactato e o índice de fadiga no teste RSA. Ainda, a efetividade do treinamento baseado no RSA foi observado pela magnitude do effect-size em algumas variáveis (ver tabela).

Conclusões: Concluiu-se que o período de quatro semanas de treinamento de RSA foi capaz de aumentar a capacidade aeróbia, bem como a capacidade anaeróbia lática. Entretanto, sugere-se a realização de novas pesquisas com diferentes períodos de intervenção para verificar a efetividade do método de treinamento.

Por hoje era isso pessoal! Fiquem com Deus e até a próxima.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

IDENTIFICAÇÃO DOS LIMIARES DE TRANSIÇÃO FISIOLÓGICA POR MEIO DAS TROCAS GASOSAS PULMONARES: UMA COMPARAÇÃO DE MÉTODOS

Paulo Cesar do Nascimento
Anderson Santiago Teixeira
Juliano Fernandes da Silva
Ricardo Dantas de Lucas

Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo

Introdução: A identificação dos limiares de transição fisiológica (LTF1 e LTF2) e dos domínios de intensidade de esforço durante o exercício é de grande importância para a avaliação e prescrição do treinamento. Entre os diferentes métodos, a análise das trocas gasosas pulmonares é um procedimento comumente utilizado por não necessitar de coleta de sangue.

Objetivo: O objetivo do presente estudo foi verificar se existe diferenças entre duas metodologias visuais e analisar a concordância entre o método do V-slope (BEAVER et al., 1986) com a análise dos equivalentes ventilatórios (DAVIS, 1985).

Metodologia: Foram avaliados 10 atletas de futsal (idade 16,2 ± 0,8 anos; estatura 174,8 ± 4,8 cm; massa corporal 67,4 ± 2,0 kg) em um teste de rampa em esteira iniciando na velocidade de 6,0 km.h-1 com incrementos de 0,5 km.h-1 cada 30s até exaustão voluntária para determinação dos LTF e do consumo máximo de oxigênio (VO2max). Os dados coletados respiração a respiração (COSMED, Quark) foram colocados em médias de 15s. Avaliou-se o comportamento do volume de gás carbônico expirado (VCO2) plotado versus o oxigênio inspirado (VO2) (método V-slope) e, os equivalentes ventilatórios de O2 (VE/VO2) e do CO2 (VE/VCO2) plotados versus o tempo (método dos limiares ventilatórios). A maior média de 15s foi considerada o VO2max. Dados em média ± DP. Foi utilizado o teste Shapiro Wilk para testar a normalidade e o teste t para amostras pareadas para verificar as possíveis diferenças. Nível de significância adotado de 5%.

Resultados: Os valores de VO2max e da máxima velocidade aeróbia atingida durante o teste de rampa foram  57,67 ± 5,44 ml.kg.min-1 e 17,1 ± 1,1 km.h-1, respectivamente. Os valores médios de velocidade e do consumo de O(VO) associado ao LTF1 e LTF2 determinado pelos diferentes métodos, bem como os valores de correlação dos LTF estão apresentados na tabela. Não foram encontradas diferenças significantes (p > 0,05) entre os limiares obtidos nos diferentes métodos e, observaram-se correlações de moderadas a alta para os respectivos pares na identificação da transição fisiológica.

Conclusão: Conclui-se que não há diferença entre os métodos para identificação visual dos limiares de transição fisiológica no presente estudo. Dessa forma, é viável a utilização de ambas as metodologias para a verificação mais fidedigna do fenômeno com a devida cautela considerando o tamanho e a especificidade da amostra.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cinética do consumo de oxigênio após realização do exercício prévio de RSA

Essa postagem fecha a série sobre o comportamento do consumo de oxigênio, ou seja, da cinética de VO2 e principalmente sobre o efeito do exercício prévio na cinética. É provável que ainda volte a postar alguma coisa sobre cinética mas o que estou objetivando com esse post é demonstrar o efeito do exercício prévio na forma de sprints repetidos (RSA) na cinética de VO2. Assunto este que havia começado na postagem anterior.

Anteriormente vimos as características de um  protocolo de sprints intermitentes (veja as definições de sprints repetidos e intermitentes na postagem anterior) com 6 estímulos máximos de 40 m com mudanças de sentido a cada 10 m e, recuperação entre os estímulos de 60 s. Observem também nos gráficos colocados que apesar de uma exigência central (FC) alta  e é claro uma exigência forte periférica o percentual de decaimento não existe para o sujeito representativo, na verdade o ultimo sprint foi até melhor que os anteriores. O que a literatura considera na verdade é que na execução dos sprints intermitentes existe um pequeno ou inexistente decaimento de performance (índice de fadiga) (GIRARD; MENDEZ-VILLANUEVA; BISHOP, 2011).


Nas figuras apresentadas podemos observar o comportamento da cinética de VO2 em diferentes momentos para o mesmo sujeito que realizou os sprints da postagem anterior. A carga foi realizada no domínio pesado de exercício, ou seja, numa carga relativa a 50% da diferença entre o limiar aeróbio e o consumo máximo de oxigênio (VO2máx). O individuo ficou 3 min em repouso e em seguida correu por 6 min na velocidade predita (nesse caso 14,8 km/h) em um esteira rolante, e ao final ficou parado em pé na esteira por mais 6 min. Ele estava conectado a um aparelho analisador de gases para verificar o comportamento da cinética tanto durante o exercício (fase on) quanto na recuperação (fase off).
Na figura superior pode-se observar o comportamento da cinética durante 6 min de exercício (fase on) e na figura inferior observa-se o comportamento nas duas fases on e off (durante a recuperação).
Em ambas as figuras a sigla SEP significa "sem exercício prévio", ou seja, uma primeira carga realizada no domínio pesado representada pelas bolinhas pretas. Os triângulos vermelhos representam uma carga realizada na mesma intensidade 6 min após a realização do protocolo de sprints intermitentes descrito anteriormente.

Podemos ver claramente que pra esse indivíduo especificamente o comportamento da cinética de VO2 foi mais rápida após a realização do exercício prévio de sprints. Ainda pode-se notar que a amplitude do componente fundamental foi maior e a amplitude do componente lento foi menor após os sprints. Quanto a fase off durante a recuperação não é visível diferenças nesse caso.

POR HOJE ERA ISSO, ABRAÇOS E FIQUEM COM DEUS. ATÉ A PROXÍMA! 


GIRARD, O.; MENDEZ-VILLANUEVA, A.; BISHOP, D. Repeated-sprint ability – part 1: factors contributing to fatigue. Sports Medicine, v. 41, n. 8, p. 673 -694, 2011.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Características fisiológicas e de performance dos Sprints repetidos.

Gostaria de dar sequência a série de posts que vinha postando sobre o comportamento da cinética de VO2 e sobre o efeito do exercício prévio na mesma. Nas postagens anteriores abordei sobre como analisar o comportamento do consumo de oxigênio, sobre as variáveis envolvidas, resenhas de artigos que tratavam do assunto e na penúltima publicação demonstrei um exemplo prático para um sujeito demonstrativo de como uma carga prévia de exercício pesado pode afetar uma segunda carga na mesma intensidade. Neste caso específico observamos que a amplitude do componente fundamental foi mais alta e a amplitude do componente lento foi menor (veja maiores detalhes na postagem anterior). Vale ressaltar que a literatura mostra que a o exercício prévio geralmente não influencia a constante tempo (t) e nem sempre influencia a amplitude do componente lento. Além disso, em um estudo interessante Jones et al. (2008) demonstraram que não houve efeito de um exercício prévio realizado em esteira no domínio severo (70% da diferença entre o limiar aeróbio e o consumo máximo de oxigênio) sobre uma segunda carga nessa mesma intensidade.

A partir desta postagem e da próxima vou abordar sobre o efeito do exercício na forma de sprints repetidos  (RSA) sobre a cinética de VO2. Primeiramente precisamos entender um pouco o comportamento do organismo durante a realização do RSA. Estas características vão depender do volume e da intensidade é claro, e geralmente os protocolos de RSA são realizados na maior velocidade possível, e as grandes diferenças ficam nas características da recuperação como por exemplo o numero de estímulos e a distância dos mesmos e o tipo de recuperação passivo ou ativo. Nos esportes coletivos,  sprints e habilidade de realizar estes repetidamente (repeated-sprint ability - RSA) são um dos principais fatores de performance física. O desempenho em testes de RSA requer a maior velocidade durante o primeiro sprint e a manutenção desta nas repetições subsequentes (DUPONT et al., 2010). Podem ser definidos dois tipos de RSA, os exercícios de sprints intermitentes podem ser caracterizados por esforços de curta duração (≤ 10 s) intercalados por períodos de recuperação com tempo suficiente (60-300 s) para alcançar uma recuperação completa da performance de sprint. Em comparação os sprints repetidos também são caracterizados por esforços de curta duração (≤ 10 s), porém com períodos breves de recuperação (≤ 60 s). A maior diferença é que nos sprints intermitentes existe um pequeno ou nenhum percentual de drecéscimo nos sprints (Sdec), enquanto que nos sprints repetidos é possível identificar um alto Sdec (GIRARD; MENDEZ-VILLANUEVA; BISHOP, 2011).

No gráfico acima observa-se o comportamento da frequência cardíaca (FC) durante a realização de um protocolo de RSA intermitente de 6 x 40 m com mudanças de direção a cada 10 m e um minuto de recuperação entre os estímulos em dois dias diferentes para um sujeito representativo.
Nesse segundo gráfico podemos observar os valores de índice de fadiga na coluna da esquerda e linha vermelha e o comportamento da FC na coluna da direita e linha preta. Valores em percentuais do melhor sprint e da FC máxima, respectivamente, para o mesmo sujeito representativo do exemplo anterior.

CONTINUAREMOS NO PRÓXIMO POST! ABRAÇOS A TODOS E FIQUEM COM AS BENÇÃOS DE DEUS.

DUPONT, G.; MCCALL, A.; PRIEUR, F.; MILLET, G. P.; BERTHOIN, S. Faster oxygen uptake kinetics during recovery is related to better repeated sprinting ability. European Journal Applied Physiology, v. 110, n. 3, p. 627–634, 2010.

GIRARD, O.; MENDEZ-VILLANUEVA, A.; BISHOP, D. Repeated-sprint ability – part 1: factors contributing to fatigue. Sports Medicine, v. 41, n. 8, p. 673 -694, 2011.


JONES, A. M.; DIMENNA, F.; LOTHIAN, F.; TAYLOR, E. G.; GARLAND, S. W.; HAYES, P. R.; THOMPSON, K. G. “Priming” exercise and O2 uptake kinetics during treadmill running. Respiratory Physiology & Neurobiology, v. 161, n. 2, p. 182-8, 2008.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

REPRODUTIBILIDADE E INFLUÊNCIA DA MATURACÃO BIOLÓGICA NO DESEMPENHO DO TESTE T-CAR EM JOGADORES DE FUTEBOL DE 10 A 13 ANOS


Autor: Anderson Santiago Teixeira
Orientador: Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo

A potência aeróbia máxima é considerada uma variável importante para o desempenho competitivo de jogadores de futebol. A escolha e seleção de testes válidos e fidedignos são recomendados para uma boa avaliação da potência aeróbia máxima. O teste T-CAR foi recentemente validado para predição da potência aeróbia máxima e o PV apresentou alta reprodutibilidade em jogadores adultos jovens (sub-20). No entanto, na faixa etária de 10-13 anos ainda não foi investigada a reprodutibilidade, e sabe-se que o estado maturacional pode influenciar diretamente o desempenho em testes físicos, como o T-CAR.

Portanto, o objetivo deste estudo foi verificar a reprodutibilidade do PV e FCmax determinado no T-CAR e a influência da maturação biológica sobre a performance de jogadores de futebol de 10 a 13 anos durante a realização do T-CAR. Participaram do estudo 37 adolescentes jogadores de futebol (12,5±1,1 anos, 43,4±11,1 kg, 152,2±10,8 cm, 16,68±4,60 % de gordura). 

Inicialmente os atletas realizaram o teste T-CAR para determinação do pico de velocidade (PV) e frequência cardíaca máxima (FCmax) em dois momentos diferentes. O T-CAR possui multi-estágios de 12s de corrida de ida e volta com pausas de 6s, velocidade inicial de 9,0 km.h-1 (incrementos de 0,6 km.h-1 a cada 90 segundos). Posteriormente, em outro dia, os atletas realizaram as avaliações de maturação sexual e esquelética no hospital para determinação dos estágios de Tanner e idade esquelética, respectivamente.

Foi empregada a análise descritiva (média e desvio-padrão), seguido do teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados. A análise de variância ANOVA oneway foi utilizada para comparar a diferença entre os valores de PV e as variáveis referentes à antropometria e maturação biológica dos atletas classificados nos diferentes estágios maturacionais esqueléticos, seguido do teste post-hoc de Tukey. Para verificar a reprodutibilidade do PV e FCmax foram utilizados o coeficiente de correlação intraclasse (CCI), erro típico de medida (ETM), coeficiente de variação do ETM (ETMCV).

O PV obtido no T-CAR não apresentou diferenças significativas entre os grupos maturacionais (14,4±0,7 vs. 14,7±1,1 vs. 14,3±0,9 km.h-1, para o grupo atrasado, normal e adiantado, respectivamente). Além disso, não houve diferença significativa para os valores de PV (14,2±1,0 vs. 14,4±1,1 km.h-1; p>0,05) e FCmax (201±9 vs. 203±10 bpm; p>0,05) entre a situação de teste e reteste, assim como encontrou-se correlações alta e muito alta para os valores de FCmax (r=0.67) e PV (r=0.85) obtidos no T-CAR, respectivamente.





Esses resultados destacam que o teste de campo T-CAR é reprodutível para avaliação da aptidão aeróbia de atletas de futebol no início da adolescência (10 a 13 anos) e que a performance no T-CAR não é influenciada pela maturação biológica, apresentando desta forma, implicações relevantes para detecção de jovens atletas talentosos.

Para mais informações deixe seu comentário! Fiquem com Deus e até a próxima!

terça-feira, 19 de março de 2013

Efeito do exercício prévio: exemplo prático


Nas últimas postagens estive abordando sobre as questões relacionadas à cinética do consumo de oxigênio e como o efeito do exercício prévio pode alterar este comportamento da cinética através das resenhas de artigos que tratam do assunto (dois ultimos posts). Nessa postagem quero compartilhar com vocês um exemplo prático desse efeito de um exercício realizado logo antes a execução de uma carga constante para determinar a cinética do VO2. Vale ressaltar que de acordo com a literatura o modo de exercício (ex. corrida ou ciclismo) interfere na cinética do VO2 e que a forma como é realizado o exercício prévio também tem diferentes conseqüências na cinética de uma carga posterior, sendo que o exercício moderado parece não ter efeito e que este efeito parece ser dependente da geração de uma acidose metabólica (veja as postagens anteriores para maiores detalhes).


No caso observado na figura em questão, um determinado sujeito fisicamente ativo e praticante de futebol recreacional de 29 anos realizou duas cargas constantes de corrida na esteira de 6 min cada no domínio pesado de esforço (50% da diferença entre o primeiro limiar de transição fisiológica e o VO2max) com 6 min de recuperação passiva entre elas. As bolinhas pretas são os valores de VO2 para primeira carga de 6 min. Os triângulos vermelhos representam os valores de VO2 durante a segunda carga. Observa-se claramente que durante a segunda carga (pós o exercício prévio) a amplitude da fase fundamental foi mais alta, ou seja, parece ter estabilizado mais rápido (menor déficit de O2), e a amplitude do componente lento foi menor (melhor eficiência metabólica).

Abraços e continuamos no próximo post!

segunda-feira, 4 de março de 2013

RESENHA DE ARTIGO: ‘Priming’ exercise and O2 uptake kinetics during treadmill running. Jones et al. 2008.


Comumente os estudos realizam duas series de 6 min de exercício separadas por 6 min de recuperação. Tem sido demonstrado que na segunda transição desses modelos de exercício a cinética de VO2 é significativamente diferente da primeira, com a resposta da cinética ‘como um todo’ sendo mais rápida (ex: mensurada através do tempo médio de resposta - MRT) devido predominante numa redução na amplitude do componente lento do VO2. As principais causas de alterações na cinética de VO2 após o exercício prévio ainda permanece para ser resolvida, mas pode envolver melhoras no fornecimento de O2, e/ou um parcial ‘alivio’ da inércia metabólica oxidativa do músculo, e/ou alterações no perfil de recrutamento das unidades motoras. Uma melhora na contribuição oxidativa da dos processos de fornecimento de energia através da transição ao exercício tem um importante ponto pratico: uma cinética de VO2 ‘total’ mais rápida depois do exercício prévio pode reduzir a taxa na qual o músculo desenvolve fadiga por uma redução na magnitude no ‘deficit de O2’ muscular. É surpreendente que os estudos anteriores que investigaram exercício prévio focaram somente e exclusivamente nas respostas ao exercício em cicloergômetro.
É sabido que a cinética de VO2 em outros modos de exercício, inclusive corrida em esteira, pode ter diferentes características. Por exemplo, a constante tempo (t) da fase II do VO2 pulmonar tende a ser mais rápida e a amplitude do componente lento tende a ser menor na corrida comparada com o exercício cíclico (BILLAT et al., 1998; CARTER et al., 2000; JONES; McCONELL, 1999).
Dessa forma, o objetivo do estudo foi investigar a influência do exercício prévio na cinética do VO2 durante corrida na esteira. Foi hipotetizado que o exercício prévio poderia 1) não influenciar significativamente a constante tempo para fase II da resposta do VO2; 2) reduzir significantemente a amplitude do componente lento; 3) resultar em uma significante aceleração da cinética de VO2 ‘total’ (através do tempo de resposta médio).

Quem quiser o texto na integra do artigo mencionado deixe seu comentário! Abraços a Todos.


JONES, A. M.; DIMENNA, F.; LOTHIAN, F. TAYLOR, E.; GARLAND, S. W.; HAYES, P. R.; THOMPSON, K. G. “Priming” exercise and O2 uptake kinetics during treadmill running. Respiratory physiology & neurobiology, v. 161, n. 2, p. 182-8, 2008. 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

RESENHA DE ARTIGO SOBRE EXERCÍCIO PRÉVIO: Effects of prior heavy exercise, prior sprint exercise and passive warming on oxygen uptake kinetics during heavy exercise in humans. Burnley; Doust, Jones 2002.


Está claramente estabelecido que séries de exercício prévio de intensidade pesada (acima do limiar de latato – LL) afeta o curso do tempo do consumo de oxigênio pulmonar (VO2) numa carga posterior de exercício pesado (GERBINO et al., 1996). Os estudos tem demonstrado a adaptação total do VO2 foi mais rápida e a amplitude do componente lento do VO2 foi reduzida durante a segunda de duas series de exercício pesado. Nesse sentido, o estudo estabeleceu que o exercício prévio de intensidade pesada não acelera a cinética do componente primário do VO2 (BURNLEY et al., 2000) mas aumenta a amplitude desta resposta primaria e diminui a amplitude da resposta do componente lento (BURNLEY et al., 2001). Entretanto, exercício prévio de intensidade moderada não tem afetado a resposta do VO2 em exercício pesado subsequente (GERBINO et al., 1996; BURNLEY et al., 2000).
Tem sido indicado que uma acidose metabólica é necessária para que o perfil da resposta do VO2 seja alterado em uma serie subsequente de exercício. Gerbino et al. (1996) propôs que a acidose residual que esta presente após uma serie de exercício pesado pode promover vasodilatação e perfusão muscular e portanto, compensar uma deficiência na disponibilidade de oxigênio no inicio de uma segunda serie de exercício pesado. Além disso, uma elevada concentração de lactato sanguíneo [La] por si só pode aumentar o VO2 corporal total durante o exercício pela estimulação da respiração mitocondrial (STRINGER et al., 1994; WILLIS; JACKMAN, 1994). Entretanto, evidências empíricas para esses potenciais efeitos em humanos se exercitando ainda são limitadas.
Dessa forma, não é conhecido qual o efeito do tipo de intensidade de exercício (ex: intensidade pesada continua ou sprints de curta duração) desempenhado pelo mesmo grupo muscular (ex: membros inferiores) terá na resposta do VO2 em exercício subsequente. Por exemplo, se a acidose é um importante mediador dos efeitos observados, depois do exercício prévio de sprint, que deverá resultar numa maior [La] do que o exercício de intensidade pesada, poderá ampliar esses efeitos.
Assim, o objetivo do estudo foi determinar se o exercício prévio de sprints de curta duração poderia exercer similares efeitos na resposta do VO2 no exercício pesado subsequente do que os observados seguidos de uma serie idêntica na mesma intensidade (domínio pesado).


BURNLEY, M.; DOUST, J. H.; JONES, A. M. Effects of prior heavy exercise, prior sprint exercise and passive warming on oxygen uptake kinetics during heavy exercise in humans. European Journal of Applied Physiology, v. 87, n. 4, p. 424-432, 2002.

Se alguém quiser a versão completa do artigo deixe um comentário que disponibilizarei.
Abraços e até a próxima!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Cinética do consumo de oxigênio: Respostas on e off da cinética de VO2 - Parte 2



A fase inicial da transição do repouso para o exercício (resposta on) resulta em um aumento exponencial do VO2 com concomitante degradação do ATP. Assim sendo, modelos matemáticos têm sido aplicados no comportamento do VO2 para auxiliar na compreensão da dinâmica do sistema oxidativo. Da mesma forma, logo após o final do esforço físico a cinética de VO2 demonstra um comportamento similar à resposta on (resposta off) mas em sentido decrescente (IDSTRÖM et al., 1985).
O interesse de se observar o fenômeno on da cinética de VO2 por meio da resposta temporal deve-se a tentativa de compreender os fatores intracelulares que regulam a ativação do sistema oxidativo (ROSSITER et al., 2002). Rossiter et al. (2002) demonstraram que a ativação do metabolismo oxidativo é dependente da degradação do ATP e da CP na fase inicial do exercício durante a fase 2 da cinética on do VO2. Uma resposta on de VO2 mais rápida pode reduzir o déficit de oxigênio, reduzindo o fornecimento de energia a partir do nível de fosforilação de substratos e do acúmulo de metabólitos relacionados com a fadiga, tais como H+ e Pi (BAILEY et al., 2009).
Depois do exercício o VO2 decresce exponencialmente até atingir valores de base que podem ser mais altos que os do pré-esforço, fenômeno este denominado de cinética off do VO2. A resposta off pode ser dividida em duas fases, uma rápida que parece estar ligada a recuperação da CP e dos estoques de O2, e outra lenta associada a degradação das concentrações de lactato sanguíneo e catecolaminas induzidas pelo exercício realizado (WHIPP; ÖZYENER, 1998; XU; RHODES, 1999). Simetria entre as respostas on e off da cinética de VO2 tem sido encontradas para intensidades do domínio moderado, assim como para intensidades mais altas, do domínio pesado ao severo (ÖZYENER et al., 2001).
Segundo Whipp e Özyener (1998) os princípios da cinética on podem também serem aplicados a resposta off por possuírem comportamentos semelhantes mas em sentido contrário. Diferentes pesquisas já demonstraram que as cinéticas off e on apresentaram semelhanças independentemente do domínio de intensidade de exercício e do ergômetro utilizado (DI PRAMPERO et al., 1989; WHIPP; ÖZYENER, 1998; CARTER et al., 2000; ÖZYENER et al., 2001), porém este assunto ainda é controverso com alguns autores afirmando que a constante tempo da resposta (t) off é menor que na on para o domínio pesado (XU; RHODES, 1999).
Özyener et al. (2001) afirmaram que para os domínios moderado e pesado a resposta off do VO2 foi melhor representada por ajustes monoexponenciais, enquanto que para o domínio severo o ajuste deveria ser o bi-exponencial. No entanto, para a cinética on nos domínios moderado e severo acima do VO2max, o ajuste mais adequado foi o monoexponencial, e nos domínios pesado e severo abaixo do VO2max, bi-exponencial (XU; RHODES, 1999; DENADAI;CAPUTO, 2003).
Ainda são poucos os estudos que investigaram o comportamento da cinética de VO2 em atletas de modalidades coletivas. Marwood et al. (2011) demonstraram que o estado de treinamento não afeta a cinética off após exercício no domínio moderado quando compararam 13 adolescentes jogadores de futebol com adolescentes não treinados. No entanto, durante a resposta on a constante tempo (t) na fase 1 foi diferente para os adolescentes treinados em estudo similar (MARWOOD et al., 2010).
Christensen et al. (2011) realizaram um interessante estudo em atletas adultos de futebol que objetivou comparar o efeito do treinamento de 2 semanas no final da temporada com o destreinamento no mesmo período de tempo. Estes autores demonstraram que o grupo que realizou um treinamento de alta intensidade melhorou a economia de corrida (EC) e performance no teste de sprints repetidos (RSA), enquanto que, o grupo que realizou o destreinamento demonstrou uma cinética on no dominio severo mais lenta e um desempenho pior no teste de RSA. Dessa forma, o status de treinamento parece afetar a cinética on de atletas de futebol nos domínios moderado e severo tanto para adolescentes quanto para adultos, porém a escassez de pesquisas tornam os achados inconclusivos.
Alguns estudos têm buscado investigar a relação entre a RSA e o comportamento da cinética de VO2 em atletas de futebol. Para o nosso conhecimento, o primeiro a fazer isso foi o de Dupont et al. (2005) que demonstraram correlações entre a constante tempo (t) nas respostas on do exercício moderado com  o Sdec e com TT no teste de sprints repetidos com 15 repetições de 40 m alternados com 25 s de recuperação ativa. Este mesmo grupo de pesquisadores encontrou relações similares entre a t na resposta off no domínio severo com o Sdec em um protocolo mais curto (7 x 30 m, 20 s de recuperação ativa) (DUPONT et al., 2010).
Rampinini et al. (2009) realizaram uma pesquisa interessante que verificou a relação entre um teste RSA (6 x 40 m, 20 s de recuperação) com a cinética on do VO2 no domínio moderado de exercício (60 % do PV) em atletas de futebol, protocolo semelhante ao utilizado por Dupont et al. (2005). Estes autores demonstraram relações significantes entre o tempo médio e o Sdec com a t, sendo que esta última foi menor para os jogadores profissionais em relação aos amadores. Entretanto, não encontramos na literatura estudos que tenham investigado as relações entre as diferentes variáveis (ex: t e componente lento) durante as respostas on e off em ambos os domínios moderado e severo, com protocolos de sprints repetidos predominantemente anaeróbios em atletas de futsal.

ABRAÇOS E ATÉ A PRÓXIMA!

Referências

BAILEY, S. J.; WILKERSON, D. P.; DIMENNA, F. J.; JONES, A. M. Influence of repeated sprint training on pulmonary O2 uptake and muscle deoxygenation kinetics in humans. Journal Applied Physiology, v. 106, n. 6, 1875–1887, 2009.

           CARTER, H.; JONES, A.M.; BARSTOW, T.J.; BURNLEY, M.; WILLIANS, C.A.; DOUST, J.H. Oxygen uptake kinetics in treadmill running an cycle ergometry: a comparison. Journal of Applied Physiology, v. 89, n. 3, p. 899-907, 2000.
          CHRISTENSEN, P. M.; KRUSTRUP, P.; GUNNARSSON, T. P.; KIILERICH, K.; NYBO, L.; BANGSBO, J.VO2 kinetics and performance in soccer players after intense training and inactivity. Medicine Science Sports Exercise, v. 43, n. 9, p. 1716-24, 2011.

         DENADAI, B. S.; CAPUTO, F. Efeitos do treinamento sobre a cinética de consumo de oxigênio durante o exercício realizado nos diferentes domínios de intensidade esforço. Motriz, v. 9, n. 1, (Supl.), p. S1 – S7, 2003.
          DI PRAMPERO, P.E.; MAHLER, P.B.; GIEZENDANNER, D.;  CERRETELLI, P. Effects of priming exercise on VO2 kinetics and O2 deficit at the onset of stepping and cycling.  Journal of Applied Physiology, v. 66, n. 5, p. 2023-2031, 1989.
           DUPONT, G.; MILLET, G. P.; GUINHOUYA, C.; BERTHOIN, S. Relationship between oxygen uptake kinetics and performance in repeated running sprints. European Journal Applied Physiology, v. 95, n. 1, p. 27–34, 2005.
DUPONT, G.; MCCALL, A.; PRIEUR, F.; MILLET, G. P.; BERTHOIN, S. Faster oxygen uptake kinetics during recovery is related to better repeated sprinting ability. European Journal Applied Physiology, v. 110, n. 3, p. 627–634, 2010.

IDSTRÖM, J. P.; SUBRAMANIAN, V. H.; CHANCE, B.; SCHERSTEN, T.; BYLUND-FELLENIUS, A. C. Oxygen dependence of energy metabolism in contracting and recovering rat skeletal muscle. American Journal of Physiology, v. 248, n. 17 (Heart Circulation Physiology), p. H40-H48, 1985.

MARWOOD, S.; ROCHE, D.; ROWLAND, T.; GARRARD, M.; UNNITHAN, V. B. Faster pulmonary oxygen uptake kinetics in trained versus untrained male adolescents. Medicine Science and Sports Exercise, v. 42, n. 1,p.127–134, 2010.

MARWOOD, S.; ROCHE, D.; GARRARD, M.; UNNITHAN, V. B. Pulmonary oxygen uptake and muscle deoxygenation kinetics during recovery in trained and untrained male adolescents. European Journal of Applied Physiology, v. 111, n. 11, p. 2775-84, 2011.

ÖZYENER, F.; ROSSITER, H. B.; WARD, S. A.; WHIPP, B. J. Influence of exercise intensity on the on- and off-transient kinetics of pulmonary oxygen uptake in humans.  Journal of Physiology, v. 533, n. 3, p. 891-902, 2001.

RAMPININI, E.; SASSI, R.; MORELLI, A.; MAZZONI, S.; FANCHINI, M.; COUTTS, A. J. Repeated-sprint ability in professional and amateur soccer players. Applied Physiology Nutrition Metabolism, v.34, n.6, p.1048-54, 2009.

ROSSITER, H. B; WARD, S. A.; KOWALCHUCK, J. M.; HOWE, F. A.; GRIFFITHS, J. R.; WHIPP, B. J. Dynamic asymmetry of phosphocreatine concentration and O2 uptake between the on- and off-transients of moderate- and high-intensity exercise in humans.  Journal of Physiology, v.15, n. 541.3, p. 991-1002, 2002.

WHIPP, B. J.; ÖZYENER, F. The kinetics of exertional oxygen uptake: assumptions and inferences. Medicina Dello Sport, v. 51, p. 139-149, 1998.

XU, F.; RHODES, E. C. Oxygen uptake kinetics during exercise. Sports Medicine, v. 27, n. 5, p. 313-327, 1999.