A fase inicial da
transição do repouso para o exercício (resposta on) resulta em um aumento exponencial do VO2 com
concomitante degradação do ATP. Assim sendo, modelos matemáticos têm sido
aplicados no comportamento do VO2 para auxiliar na compreensão da
dinâmica do sistema oxidativo. Da mesma forma, logo após o final do esforço
físico a cinética de VO2 demonstra um comportamento similar à
resposta on (resposta off) mas em sentido decrescente (IDSTRÖM
et al., 1985).
O interesse de se
observar o fenômeno on da cinética de
VO2 por meio da resposta temporal deve-se a tentativa de compreender
os fatores intracelulares que regulam a ativação do sistema oxidativo (ROSSITER
et al., 2002). Rossiter et al. (2002) demonstraram que a ativação do
metabolismo oxidativo é dependente da degradação do ATP e da CP na fase inicial
do exercício durante a fase 2 da cinética on
do VO2. Uma resposta on de
VO2 mais rápida pode reduzir o déficit de oxigênio, reduzindo o
fornecimento de energia a partir do nível de fosforilação de substratos e do
acúmulo de metabólitos relacionados com a fadiga, tais como H+ e Pi
(BAILEY et al., 2009).
Depois do exercício o VO2
decresce exponencialmente até atingir valores de base que podem ser mais altos
que os do pré-esforço, fenômeno este denominado de cinética off do VO2. A resposta off pode ser dividida em duas fases, uma
rápida que parece estar ligada a recuperação da CP e dos estoques de O2,
e outra lenta associada a degradação das concentrações de lactato sanguíneo e
catecolaminas induzidas pelo exercício realizado (WHIPP; ÖZYENER, 1998; XU;
RHODES, 1999). Simetria entre as respostas on
e off da cinética de VO2
tem sido encontradas para intensidades do domínio moderado, assim como para
intensidades mais altas, do domínio pesado ao severo (ÖZYENER et al., 2001).
Segundo Whipp e Özyener (1998)
os princípios da cinética on podem
também serem aplicados a resposta off
por possuírem comportamentos semelhantes mas em sentido contrário. Diferentes
pesquisas já demonstraram que as cinéticas off
e on apresentaram semelhanças
independentemente do domínio de intensidade de exercício e do ergômetro
utilizado (DI PRAMPERO et al., 1989; WHIPP; ÖZYENER, 1998; CARTER et al., 2000;
ÖZYENER et al., 2001), porém este assunto ainda é controverso com alguns
autores afirmando que a constante tempo da resposta (t) off
é menor que na on para o domínio
pesado (XU; RHODES, 1999).
Özyener et al. (2001)
afirmaram que para os domínios moderado e pesado a resposta off do VO2 foi melhor
representada por ajustes monoexponenciais, enquanto que para o domínio severo o
ajuste deveria ser o bi-exponencial. No entanto, para a cinética on nos domínios moderado e severo acima
do VO2max, o ajuste mais adequado foi o monoexponencial, e nos
domínios pesado e severo abaixo do VO2max, bi-exponencial (XU;
RHODES, 1999; DENADAI;CAPUTO, 2003).
Ainda são poucos os
estudos que investigaram o comportamento da cinética de VO2 em
atletas de modalidades coletivas. Marwood et al. (2011) demonstraram que o
estado de treinamento não afeta a cinética off
após exercício no domínio moderado quando compararam 13 adolescentes jogadores
de futebol com adolescentes não treinados. No entanto, durante a resposta on a constante tempo (t) na fase 1 foi diferente para os
adolescentes treinados em estudo similar (MARWOOD et al., 2010).
Christensen et al. (2011)
realizaram um interessante estudo em atletas adultos de futebol que objetivou
comparar o efeito do treinamento de 2 semanas no final da temporada com o
destreinamento no mesmo período de tempo. Estes autores demonstraram que o
grupo que realizou um treinamento de alta intensidade melhorou a economia de
corrida (EC) e performance no teste
de sprints repetidos (RSA), enquanto
que, o grupo que realizou o destreinamento demonstrou uma cinética on no dominio severo mais lenta e um
desempenho pior no teste de RSA. Dessa forma, o status de treinamento parece
afetar a cinética on de atletas de
futebol nos domínios moderado e severo tanto para adolescentes quanto para
adultos, porém a escassez de pesquisas tornam os achados inconclusivos.
Alguns estudos têm
buscado investigar a relação entre a RSA e o comportamento da cinética de VO2
em atletas de futebol. Para o nosso conhecimento, o primeiro a fazer isso foi o
de Dupont et al. (2005) que demonstraram correlações entre a constante tempo (t) nas respostas on do exercício moderado com
o Sdec e com TT no teste de sprints repetidos com 15 repetições de 40 m alternados com 25 s de
recuperação ativa. Este mesmo grupo de pesquisadores encontrou relações
similares entre a t na resposta off no domínio severo com o Sdec em um protocolo mais
curto (7 x 30 m, 20 s de recuperação ativa) (DUPONT et al., 2010).
Rampinini et al. (2009)
realizaram uma pesquisa interessante que verificou a relação entre um teste RSA
(6 x 40 m, 20 s de recuperação) com a cinética on do VO2 no domínio moderado de exercício (60 % do PV)
em atletas de futebol, protocolo semelhante ao utilizado por Dupont et al.
(2005). Estes autores demonstraram relações significantes entre o tempo médio e
o Sdec com a t, sendo que esta última foi menor
para os jogadores profissionais em relação aos amadores. Entretanto, não
encontramos na literatura estudos que tenham investigado as relações entre as
diferentes variáveis (ex: t e componente lento) durante as
respostas on e off em ambos os domínios moderado e severo, com protocolos de sprints repetidos predominantemente
anaeróbios em atletas de futsal.
ABRAÇOS E ATÉ A PRÓXIMA!
Referências
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