Paulo Cesar do
Nascimento / CDS-UFSC
Anderson Santiago
Teixeira / CDS-UFSC
Kristopher Mendes de Souza / CDS-UFSC
Luiz Guilherme
Antonacci Guglielmo / CDS-UFSC
INTRODUÇÃO
No futsal, a realização de
esforços de alta intensidade e curta duração (ex: sprints, 1 x1, saídas de pressão) depende principalmente do sistema
anaeróbio alático. Entretanto, nas ações de transição ataque-defesa e
contra-ataques sucessivos, o sistema predominante é o anaeróbio lático.
Contudo, o metabolismo aeróbio participa significativamente em aproximadamente
90% de todas as ações dos jogadores durante uma partida de futsal (MEDINA et
al., 2002; BARBERO ÁLVAREZ; BARBERO ÁLVAREZ, 2003; BARBERO ÁLVAREZ et al.,
2008).
Considerando que o futsal é
um desporto com constantes sprints em
contra-ataques, saltos para cabeceios e movimentações rápidas para se livrar ou
realizar marcação os atletas executam esforços com um nível de exigência
muscular elevado, solicitando a mobilização máxima das capacidades específicas
da modalidade como aceleração, velocidade e agilidade (BARBERO ÁLVAREZ et al.,
2008). Dessa forma a avaliação específica e o entendimento claro dos índices
fisiológicos envolvidos na prática do futsal são de suma importância para o
aprimoramento da prescrição do treinamento na modalidade. Assim a hipótese do
presente trabalho é que a capacidade aeróbia e potência
aeróbia poderão explicar conjuntamente a variação da performance anaeróbia visto
que estas participam ativamente durante e na recuperação dos esforços de
alta intensidade deste esporte (MEDINA et al., 2002).
Portanto o objetivo do
presente estudo foi analisar a influência dos índices fisiológicos de
capacidade (vLAn) e potência aeróbia (VO2max; vVO2max) na
performance anaeróbia lática obtida no teste de capacidade do sprints repetidos.
METÓDOS
Participaram deste estudo
doze jogadores de futsal da categoria sub20 de uma equipe de nível nacional do
Brasil (18,6 ± 0,4 anos, 173,4 ± 4,0 cm, 68,4 ± 5,4 kg, 13,6 ±
3,6 %
de gordura corporal). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (protocolo – 224/08). Os participantes
foram previamente instruídos sobre os procedimentos técnicos referentes às avaliações
assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.
Os jogadores foram
instruídos a chegar aos testes em totais condições de hidratação e alimentação
e, não realizar nenhum tipo de treinamento 24 h antes de cada teste. Todos os
testes foram realizados no mesmo período do dia. Os testes foram realizados com um intervalo de no mínimo
48h entre cada um deles. Para a
caracterização da amostra foram realizadas as avaliações antropométricas que
seguiram os procedimentos definidos em Petroski (2007). O
percentual de gordura corporal foi estimado a partir da equação de sete dobras
cutâneas proposta por Jackson
e Pollock (1978) específica para atletas do sexo masculino.
No primeiro dia os atletas
realizaram um protocolo incremental em esteira rolante (IMBRAMED SUPER ATL,
Porto Alegre, Brasil) para determinação do consumo máximo de oxigênio (VO2max).
A velocidade inicial foi de 9 km.h-1 (1% de inclinação), com
incrementos de 1,2 km.h-1 a cada 3 min até a exaustão voluntária.
Entre cada estágio, houve um intervalo de 30 s para a coleta de 25 µl de sangue
do lóbulo da orelha para a dosagem do lactato sanguíneo por meio de um
analisador eletroquímico (YSI 2700 STAT, Yellow Springs, OH, USA). O VO2
foi mensurado respiração a respiração durante todo o protocolo a partir do gás
expirado (K4b2, Cosmed, Roma, Itália), sendo os dados reduzidos à
média de 15 s. O VO2max foi considerado como o maior valor obtido
durante o teste nestes intervalos de 15 s. A velocidade associada ao VO2max
(vVO2max) foi considerada como sendo a menor velocidade de corrida,
na qual ocorreu o VO2max. A velocidade referente ao limiar anaeróbio
(vLan) foi determinado como sendo a velocidade correspondente a concentração
fixa de lactato de 3,5 mmol.L-1, conforme proposto por Heck et al.
(1985).
No segundo dia de avaliação
os jogadores realizaram o teste de capacidade de sprints repetidos (CSR) proposto por Bangsbo (1994), o qual é
constituído por sete sprints máximos
de 34,2 m com três mudanças de sentido cada, intercalados com 25 s de
recuperação. Os tempos foram mensurados por meio do sistema de fotocélulas
(CEFISE® - Speed Test 6.0). Dentre as variáveis derivadas do teste de CSR,
analisou-se somente o tempo total (TT) dos setes sprints como indicador de capacidade anaeróbia.
Para realização da análise
estatística, foi utilizado o programa Statistical
Package for Social Sciences (SPSS 17.0 for Windows). Os dados foram
apresentados em média e desvio-padrão (DP). A normalidade dos dados foi
verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk (n<50 font="">. A correlação entre o
TT e VO2max, vVO2max e vLAn foi realizada pela análise de
regressão linear simples e a múltipla utilizando o método Stepwise. Nível de significância de 5%.50>
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os valores dos
índices de desempenho obtidos em protocolos de campo e de laboratório em
jogadores de futsal sub20 estão descritos na Tabela 1.
Os valores de VO2max
do presente estudo foram similares aos valores relatados por Baroni et al.
(2011) em atletas profissionais adultos (≈ 23 anos) de futsal. Por outro lado,
os valores de vVO2max e vLAn observados no estudo de Baroni et al.
(2011) foram superiores comparado ao
presente estudo (17,1 vs. 15,2 km.h-1 e 14,9 vs. 12,4 km.h-1,
para vVO2max e vLAn, respectivamente). As diferentes durações dos
estágios do teste incremental adotado em cada estudo (1min vs. 3min), podem
explicar em parte os maiores valores de potência e capacidade aeróbia
apresentados por Baroni et al. (2011). Além disso, o TT no teste de CSR
observado no presente estudo foi menor comparado ao estudo de Barbero Álvarez e
Barbero Álvarez (2003) (47,5 ± 1,4 vs. 51,04 ± 1,29, respectivamente) realizado
com jogadores profissionais adultos de futsal.
Os valores de correlação do TT no teste de capacidade de sprints repetidos com o VO2max, vVO2max e vLAn estão descritos na Tabela 2. Observaram-se correlações de magnitude nominal moderada a alta para as variáveis independentes e o TT (p<0 nbsp="" span="">Adicionalmente, os modelos de regressão linear simples mostraram que as variáveis independentes conseguem explicar individualmente entre 36% e 63% da variação inter-individual dos valores de TT em jogadores de futsal sub20 (tabela 2). Por outro lado, quando todas as variáveis independentes foram adicionadas no modelo inicial para realização da análise de regressão linear múltipla, os resultados mostraram que a vLAn foi a única variável preditora no modelo final, explicando aproximadamente 58,9% das variações nos resultados obtidos para o TT, enquanto o VO2max e vVO2max foram excluídas (p valor > 0,05).0>
Barbero Álvarez e Barbero Álvarez (2003) realizaram um interessante estudo com 12 atletas profissionais de futsal (idade ≈ 26 anos) com o objetivo de verificar a relação entre o VO2max (51,35 ml.kg.min-1) com tempo total (51,04 s) no teste de CSR e encontraram uma relação negativa significante entre as duas variáveis (r = -0,728). Ainda, quando os autores realizaram analise de regressão para verificar o grau de explicação do TT pelo VO2max encontraram um R2 de 0,52. O protocolo de sprints adotado no estudo citado foi igual ao do presente estudo, enquanto que, o VO2max ao contrário da presente pesquisa foi estimado por meio de um protocolo de campo, o que pode justificar em parte as diferenças encontradas nos resultados.
Portanto, com base no que
foi demonstrado anteriormente na literatura por Barbero Álvarez e Barbero
Álvarez (2003) e com os achados do presente estudo podemos aceitar a hipótese
proposta e afirmar com base nesses resultados que a capacidade e a potência
aeróbia podem explicar, ao menos em parte, a variação da performance anaeróbia
lática.
CONCLUSÃO
Podemos concluir que na
presente pesquisa a capacidade aeróbia foi a melhor preditora da capacidade
anaeróbia lática. Ainda, pode-se considerar que a potência aeróbia tem uma
influência importante na performance anaeróbia. Podem-se justificar esses
achados pela necessidade de uma aptidão aeróbia aprimorada para otimizar a
recuperação entre os inúmeros esforços máximos intermitentes realizados durante
os jogos. Por fim, salienta-se a necessidade de outras pesquisas com propósitos
similares para confirmar os presentes achados.
REFERÊNCIAS
BANGSBO, J. Fitness
training in football – A scientific
approach. 1ª ed. Baegsvard: H+O Storm, 1994.
BARBERO ÁLVAREZ, J. C.; BARBERO ÁLVAREZ, V. Relación entre él consumo de oxígeno y
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de entrenamiento, v.17, n.2, p.13-24, 2003.
BARBERO ÁLVAREZ, J. C.; SOTO, V. M.; BARBERO ÁLVAREZ,
V.; GRANDA-VERA, J. Match analysis and heart rate of futsal players during
competition, Journal of Sports Science,
v. 26, n.1, p.63-73, 2008.
BARONI, B. M.; COUTO,
W.; LEAL JUNIOR, E. C. P. Estudo descritivo-comparativo de parâmetros de
desempenho aeróbio de atletas profissionais de futebol e futsal. Revista Brasileira de Cineantropometria e
Desempenho Humano, v. 13, n.3, p.170–176, 2011.
HECK, H.; MADER, A.; HESS, G.; MUCKE, S.; MULLER, R.;
HOLMANN, W. Justification of the 4mmol/l lactate threshold. International Journal of Sports Science, v.6, p.117-30, 1985.
JACKSON, A. S.; POLLOCK, M. L.
Generalized Equations for Predicting
Body Density of Men. British Journal of Nutrition, v.
40, p. 497-504, 1978.
MEDINA, J. V.;
SALILLAS, L. G.; VIRÓN, P. C.; MARQUETA, P. M. Necesidades cardiovasculares y
metabólicas Del fútbol sala: análisis de La competición. Apunts Educación Física y Deportes, v.67, p.45-51, Jan, 2002.
PETROSKI, E, L.
(Org). Antropometria: Técnicas
e Padronizações. 3ª ed. Porto Alegre:
Palotti, 2007.
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