segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A CAPACIDADE E POTÊNCIA AERÓBIA CONTRIBUEM PARA PERFORMANCE ANAERÓBIA LÁTICA DE JOGADORES DE FUTSAL?

Paulo Cesar do Nascimento / CDS-UFSC
Anderson Santiago Teixeira / CDS-UFSC
 Kristopher Mendes de Souza / CDS-UFSC

Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo / CDS-UFSC

INTRODUÇÃO
No futsal, a realização de esforços de alta intensidade e curta duração (ex: sprints, 1 x1, saídas de pressão) depende principalmente do sistema anaeróbio alático. Entretanto, nas ações de transição ataque-defesa e contra-ataques sucessivos, o sistema predominante é o anaeróbio lático. Contudo, o metabolismo aeróbio participa significativamente em aproximadamente 90% de todas as ações dos jogadores durante uma partida de futsal (MEDINA et al., 2002; BARBERO ÁLVAREZ; BARBERO ÁLVAREZ, 2003; BARBERO ÁLVAREZ et al., 2008).
Considerando que o futsal é um desporto com constantes sprints em contra-ataques, saltos para cabeceios e movimentações rápidas para se livrar ou realizar marcação os atletas executam esforços com um nível de exigência muscular elevado, solicitando a mobilização máxima das capacidades específicas da modalidade como aceleração, velocidade e agilidade (BARBERO ÁLVAREZ et al., 2008). Dessa forma a avaliação específica e o entendimento claro dos índices fisiológicos envolvidos na prática do futsal são de suma importância para o aprimoramento da prescrição do treinamento na modalidade. Assim a hipótese do presente trabalho é que a capacidade aeróbia e potência aeróbia poderão explicar conjuntamente a variação da performance anaeróbia visto que estas participam ativamente durante e na recuperação dos esforços de alta intensidade deste esporte (MEDINA et al., 2002).
Portanto o objetivo do presente estudo foi analisar a influência dos índices fisiológicos de capacidade (vLAn) e potência aeróbia (VO2max; vVO2max) na performance anaeróbia lática obtida no teste de capacidade do sprints repetidos.
  
METÓDOS
Participaram deste estudo doze jogadores de futsal da categoria sub20 de uma equipe de nível nacional do Brasil (18,6 ± 0,4 anos, 173,4 ± 4,0 cm, 68,4 ± 5,4 kg, 13,6 ± 3,6 % de gordura corporal). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (protocolo – 224/08). Os participantes foram previamente instruídos sobre os procedimentos técnicos referentes às avaliações assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.
Os jogadores foram instruídos a chegar aos testes em totais condições de hidratação e alimentação e, não realizar nenhum tipo de treinamento 24 h antes de cada teste. Todos os testes foram realizados no mesmo período do dia. Os testes foram realizados com um intervalo de no mínimo 48h entre cada um deles. Para a caracterização da amostra foram realizadas as avaliações antropométricas que seguiram os procedimentos definidos em Petroski (2007). O percentual de gordura corporal foi estimado a partir da equação de sete dobras cutâneas proposta por Jackson e Pollock (1978) específica para atletas do sexo masculino.
No primeiro dia os atletas realizaram um protocolo incremental em esteira rolante (IMBRAMED SUPER ATL, Porto Alegre, Brasil) para determinação do consumo máximo de oxigênio (VO2max). A velocidade inicial foi de 9 km.h-1 (1% de inclinação), com incrementos de 1,2 km.h-1 a cada 3 min até a exaustão voluntária. Entre cada estágio, houve um intervalo de 30 s para a coleta de 25 µl de sangue do lóbulo da orelha para a dosagem do lactato sanguíneo por meio de um analisador eletroquímico (YSI 2700 STAT, Yellow Springs, OH, USA). O VO2 foi mensurado respiração a respiração durante todo o protocolo a partir do gás expirado (K4b2, Cosmed, Roma, Itália), sendo os dados reduzidos à média de 15 s. O VO2max foi considerado como o maior valor obtido durante o teste nestes intervalos de 15 s. A velocidade associada ao VO2max (vVO2max) foi considerada como sendo a menor velocidade de corrida, na qual ocorreu o VO2max. A velocidade referente ao limiar anaeróbio (vLan) foi determinado como sendo a velocidade correspondente a concentração fixa de lactato de 3,5 mmol.L-1, conforme proposto por Heck et al. (1985).
No segundo dia de avaliação os jogadores realizaram o teste de capacidade de sprints repetidos (CSR) proposto por Bangsbo (1994), o qual é constituído por sete sprints máximos de 34,2 m com três mudanças de sentido cada, intercalados com 25 s de recuperação. Os tempos foram mensurados por meio do sistema de fotocélulas (CEFISE® - Speed Test 6.0). Dentre as variáveis derivadas do teste de CSR, analisou-se somente o tempo total (TT) dos setes sprints como indicador de capacidade anaeróbia.
Para realização da análise estatística, foi utilizado o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS 17.0 for Windows). Os dados foram apresentados em média e desvio-padrão (DP). A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk (n<50 font="">A correlação entre o TT e VO2max, vVO2max e vLAn foi realizada pela análise de regressão linear simples e a múltipla utilizando o método Stepwise. Nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os valores dos índices de desempenho obtidos em protocolos de campo e de laboratório em jogadores de futsal sub20 estão descritos na Tabela 1.

Os valores de VO2max do presente estudo foram similares aos valores relatados por Baroni et al. (2011) em atletas profissionais adultos (≈ 23 anos) de futsal. Por outro lado, os valores de vVO2max e vLAn observados no estudo de Baroni et al. (2011) foram superiores comparado ao  presente estudo (17,1 vs. 15,2 km.h-1 e 14,9 vs. 12,4 km.h-1, para vVO2max e vLAn, respectivamente). As diferentes durações dos estágios do teste incremental adotado em cada estudo (1min vs. 3min), podem explicar em parte os maiores valores de potência e capacidade aeróbia apresentados por Baroni et al. (2011). Além disso, o TT no teste de CSR observado no presente estudo foi menor comparado ao estudo de Barbero Álvarez e Barbero Álvarez (2003) (47,5 ± 1,4 vs. 51,04 ± 1,29, respectivamente) realizado com jogadores profissionais adultos de futsal.


Os valores de correlação do TT no teste de capacidade de sprints repetidos com o VO2max, vVO2max e vLAn estão descritos na Tabela 2. Observaram-se correlações de magnitude nominal moderada a alta para as variáveis independentes e o TT (p<0 nbsp="" span="">Adicionalmente, os modelos de regressão linear simples mostraram que as variáveis independentes conseguem explicar individualmente entre 36% e 63% da variação inter-individual dos valores de TT em jogadores de futsal sub20 (tabela 2). Por outro lado, quando todas as variáveis independentes foram adicionadas no modelo inicial para realização da análise de regressão linear múltipla, os resultados mostraram que a vLAn foi a única variável preditora no modelo final, explicando aproximadamente 58,9% das variações nos resultados obtidos para o TT, enquanto o VO2max e vVO2max foram excluídas (p valor > 0,05).
Barbero Álvarez e Barbero Álvarez (2003) realizaram um interessante estudo com 12 atletas profissionais de futsal (idade ≈ 26 anos) com o objetivo de verificar a relação entre o VO2max (51,35 ml.kg.min-1) com tempo total (51,04 s) no teste de CSR e encontraram uma relação negativa significante entre as duas variáveis (r = -0,728). Ainda, quando os autores realizaram analise de regressão para verificar o grau de explicação do TT pelo VO2max encontraram um R2 de 0,52. O protocolo de sprints adotado no estudo citado foi igual ao do presente estudo, enquanto que, o VO2max ao contrário da presente pesquisa foi estimado por meio de um protocolo de campo, o que pode justificar em parte as diferenças encontradas nos resultados.
Portanto, com base no que foi demonstrado anteriormente na literatura por Barbero Álvarez e Barbero Álvarez (2003) e com os achados do presente estudo podemos aceitar a hipótese proposta e afirmar com base nesses resultados que a capacidade e a potência aeróbia podem explicar, ao menos em parte, a variação da performance anaeróbia lática.
  
CONCLUSÃO
Podemos concluir que na presente pesquisa a capacidade aeróbia foi a melhor preditora da capacidade anaeróbia lática. Ainda, pode-se considerar que a potência aeróbia tem uma influência importante na performance anaeróbia. Podem-se justificar esses achados pela necessidade de uma aptidão aeróbia aprimorada para otimizar a recuperação entre os inúmeros esforços máximos intermitentes realizados durante os jogos. Por fim, salienta-se a necessidade de outras pesquisas com propósitos similares para confirmar os presentes achados.

REFERÊNCIAS
BANGSBO, J. Fitness training in football – A scientific approach. 1ª ed. Baegsvard: H+O Storm, 1994.
BARBERO ÁLVAREZ, J. C.; BARBERO ÁLVAREZ, V. Relación entre él consumo de oxígeno y la capacidad para realizar ejercicio intermitente de alta intensidad en jugadores de fútbol sala, Revista de entrenamiento, v.17, n.2, p.13-24, 2003.
BARBERO ÁLVAREZ, J. C.; SOTO, V. M.; BARBERO ÁLVAREZ, V.; GRANDA-VERA, J. Match analysis and heart rate of futsal players during competition, Journal of Sports Science, v. 26, n.1, p.63-73, 2008.
BARONI, B. M.; COUTO, W.; LEAL JUNIOR, E. C. P. Estudo descritivo-comparativo de parâmetros de desempenho aeróbio de atletas profissionais de futebol e futsal. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 13, n.3, p.170–176, 2011.
HECK, H.; MADER, A.; HESS, G.; MUCKE, S.; MULLER, R.; HOLMANN, W. Justification of the 4mmol/l lactate threshold. International Journal of Sports Science, v.6, p.117-30, 1985.
JACKSON, A. S.; POLLOCK, M. L. Generalized Equations for Predicting  Body Density of Men. British Journal of Nutrition, v. 40, p. 497-504, 1978.
MEDINA, J. V.; SALILLAS, L. G.; VIRÓN, P. C.; MARQUETA, P. M. Necesidades cardiovasculares y metabólicas Del fútbol sala: análisis de La competición. Apunts Educación Física y Deportes, v.67, p.45-51, Jan, 2002.
PETROSKI, E, L. (Org). Antropometria: Técnicas e Padronizações. 3ª ed. Porto Alegre: Palotti, 2007.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Testes de campo utilizados para avaliação da capacidade de sprints repetidos

Durante uma partida de futebol, os jogadores desempenham diferentes tipos de exercício tais como corridas, chutes, saltos e movimentos envolvendo ações técnicas e táticas. O futebol requer a repetição de corridas alternadas com curtos períodos de recuperação, que podem ser ativos ou passivos, com a intensidade das ações alternando em qualquer momento de acordo com a demanda da partida (DUPONT; AKAKPO; BERTHOIN, 2004). Além disso, os momentos decisivos ou os gols são precedidos por movimentos de acelerações, sprints, ou ações de força explosiva.
Estas ações são caracterizadas, em sua maioria, como atividades anaeróbias, se analisadas isoladamente, contudo, a energia proveniente do metabolismo aeróbio é utilizada para 90% das movimentações dos jogadores de futebol, tornando-se um pré-requisito para esta modalidade (DA SILVA; DITTRICH; GUGLIELMO, 2011).
Diversas metodologias e protocolos têm sido propostos para avaliação aeróbia e anaeróbia de futebolistas com o objetivo de identificar os índices fisiológicos que podem explicar a performance da modalidade. Os cientistas do esporte podem, através dessas avaliações fisiológicas, analisar esses fatores e utilizar a informação para fornecer perfis individuais de seus respectivos pontos fortes e fracos. Estes dados podem formar a base para o desenvolvimento de estratégias de formação ideal (SVENSSON; DRUST, 2005).
Entre os testes mais utilizados nos últimos anos para avaliação no futebol destaca-se o crescente uso dos métodos de campo que possuem uma melhor validade ecológica, visto que levam em conta o princípio da especificidade, pois buscam reproduzir os movimentos utilizados durantes os treinos e jogos e ao contrario dos testes laboratoriais possuem um baixo custo para sua utilização (DA SILVA; DITTRICH; GUGLIELMO, 2011).
Além disso, entre os estudos que realizaram trabalhos de intervenção destaca-se o amplo uso de testes de campo para avaliar os diferentes componentes físicos (HELGERUD et al., 2001; FERRARI BRAVO et al., 2008; CHRISTENSEN et al., 2011).
Entretanto, constata-se que há uma lacuna na literatura de estudos que buscaram reunir o conhecimento atual existente na área sobre os testes de campo mais utilizados como instrumentos de avaliação em pesquisas que realizaram intervenção, quais os testes tem sido mais utilizados por esse tipo de investigação, e se estes instrumentos tem demonstrado algum tipo de validade ou reprodutibilidade. Este breve estudo abordará sobre os trabalhos mais recentes que realizaram treinamento com sprints repetidos e os métodos de avaliação utilizados pelos mesmos.
Esse artigo foi publicado previamente pela Universidade do Futebol e tem como autores Paulo Cesar Nascimento (eu), Tiago cetolin e o Jaelson Ortiz. Para continuar lendo sobre o assunto e ver o artigo na íntegra acesse:
Abraços a todos e fiquem com Deus! Até a próxima...