sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A CAPACIDADE ANAERÓBIA ALÁTICA E LÁTICA CONTRIBUI PARA POTÊNCIA AERÓBIA MÁXIMA DE JOGADORES DE FUTSAL?

Este foi o titulo de um recente artigo que publiquei no 11° Fórum internacional de esportes, em Florianópolis - SC. Dessa maneira quero compartilhar com vocês este trabalho, já que acredito que ele poderá contribuir de alguma maneira para os profissionais envolvidos com a modalidade. Um grande abraço e até a próxima.


RESUMO

O objetivo deste trabalho foi investigar a contribuição de índices anaeróbios e da capacidade aeróbia na potência aeróbia máxima de jogadores jovens de futsal. Participaram da pesquisa 14 atletas do sexo masculino da categoria sub-17 (16,7 ± 0,5 anos; 68,5 ± 6,6 kg; 176,6 ± 4,5 cm e 10,1 ± 4,0% de gordura) os quais foram submetidos ao teste incremental de corrida intermitente (TCAR) para determinação da capacidade aeróbia (vPDFC) e potência aeróbia máxima; e ao teste de sprints repetidos (40-m MST) para determinação das variáveis anaeróbias aláticas (melhor tempo – MT) e láticas (tempo total - TT, índice de fadiga - IF, lactato máximo - LACmax). Para verificar a relação entre os índices anaeróbios e o pico de velocidade (PV) foi utilizada a correlação linear de Pearson, e a regressão múltipla stepwise para analisar a associação destes, nível de significância p< 0,05. O PV obteve correlações significativas com a VPDFC (r = 0,81), com o MT (r = -0,48), TT (r = -0,69) e IF (r = -0,60). A análise de regressão múltipla mostrou que 52% da performance do PV pode ser explicada pelos índices TT, MT. Conclui-se que a performance anaeróbia  é determinante na potência aeróbia máxima em atletas de futsal.
Palavras-chave: Futsal, Índices anaeróbios, Potência aeróbia.

INTRODUÇÃO

Apesar de sua popularidade mundial e status competitivo existem poucos estudos que analisaram os aspectos fisiológicos do futsal (BARBERO ÁLVAREZ et al., 2008; CASTAGNA et al., 2009; BARBERO ÁLVAREZ et al., 2009).
Por ser um esporte caracterizado pela combinação de ações de elevadas intensidades, intercaladas com períodos de recuperação variáveis durante o período de jogo (40 minutos cronometrados), o futsal é uma modalidade que depende tanto de variáveis relacionadas ao metabolismo aeróbio quanto anaeróbio (MEDINA et al., 2002; ÁLVAREZ et al., 2008).
De acordo com Medina et al. (2002), para a execução de esforços de máxima intensidade e curta duração (sprints, um contra um, saídas de pressão) a energia é proveniente, principalmente, do sistema ATP-PC. Por sua vez, nas sequências de ações de transições ataque-defesa e contra-ataques sucessivos, o metabolismo anaeróbio lático é o principal responsável pela manutenção do esforço. Por fim, durante o transcorrer de toda a partida a via aeróbia possui uma participação significativa por volta de 90% dos esforços (MEDINA et al., 2002; BARBERO ÁLVAREZ; BARBERO ÁLVAREZ, 2003; ÁLVAREZ et al., 2008).
Considerando que o futsal é um desporto com constantes sprints em contra-ataques, saltos para cabeceios e movimentações rápidas para se livrar ou realizar marcação os atletas executam esforços com um nível de exigência muscular elevado, solicitando a mobilização máxima das capacidades específicas da modalidade como aceleração, velocidade, agilidade e sprint (DA SILVA et al., 2012).
Ainda, exercícios na habilidade de realizar sprints repetidos (repeated-sprint ability - RSA) são caracterizados por esforços de alta intensidade com breves períodos de recuperação. Cada repetição resulta em respostas metabólicas similares ao que ocorre durante as partidas de futsal, como a redução do pH muscular, dos níveis de fosfocreatina e ATP, ativação da glicólise anaeróbia e significante envolvimento do metabolismo aeróbio (WRAGG; MAXWELL; DOUST, 2000; ROSS; LEVERITT, 2001; MEDINA et al., 2002; SPENCER; BISHOP; DAWSON, 2005; RAMPININI et al., 2007).
Assim, o conhecimento dos índices fisiológicos que melhor predizem a intensidade de trabalho exigida durante a partida pode contribuir de forma decisiva para que a comissão técnica elabore um programa de treinamento adequado, que potencialize o desempenho frente às exigências físicas do futsal.
Nesse sentido, para que os atletas consigam manter a performance durante o tempo total de permanência em quadra, torna-se necessário que os mesmos possuam valores elevados de potência aeróbia máxima (BARBERO ÁLVAREZ; BARBERO ÁLVAREZ, 2003; SOARES; TOURINHO FILHO, 2006). Neste sentido, a utilização do pico de velocidade (PV), que é a máxima velocidade alcançada em testes progressivos de laboratório ou campo, parece ser uma opção válida para mensuração da potência aeróbia (DITTRICH et al., 2011; NASCIMENTO et al., 2011).
Dessa forma, as melhoras na performance dos jogadores devem ser preferencialmente verificadas em testes de campo bem controlados, uma vez que estes têm uma maior validade ecológica e permitem avaliar um grande número de jogadores ao mesmo tempo. Desta forma, o teste de Carminatti (TCAR) têm sido recentemente proposto e validado para avaliar a capacidade aeróbia através do ponto de deflexão da frequência cardíaca – (PDFC) e potência aeróbia (PV) de jogadores de futebol e futsal com um protocolo intermitente com aumento progressivo da distância percorrida (DA SILVA et al., 2011; DITTRICH et al., 2011).
Visto que o PV pode ser influenciado pela capacidade anaeróbia, potência muscular e habilidade neuromuscular de correr em velocidades elevadas (JONES; CARTER, 2000) a hipótese do presente estudo é que os índices fisiológicos anaeróbios (MT. TT) juntamente com o VPDFC poderão explicar a potência aeróbia máxima expressa pelo PV. Assim, o objetivo desta pesquisa foi analisar a contribuição dos índices anaeróbios determinados no teste de sprints repetidos (MT, TT, IF e LACMax) e da capacidade aeróbia (VPDFC) no pico de velocidade obtido no teste progressivo de corrida intermitente em jogadores jovens de futsal.

PROCEDIMENTOS MÉTODOLÓGICOS

Sujeitos
Participaram da pesquisa 14 jogadores do sexo masculino (16,7 ± 0,5 anos; 68,5 ± 6,6 kg; 176,6 ± 4,5 cm e 10,1 ± 4,0% de gordura) pertencentes à categoria sub-17 de uma equipe de futsal da cidade de Florianópolis com no mínimo quatro anos de treinamento precedentes ao estudo. Antes de iniciarem os procedimentos para a coleta de dados, os atletas do estudo foram esclarecidos sobre os objetivos e os métodos da pesquisa e na sequência assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina sob o número 224/08 FR- 207004.
Os sujeitos realizaram as seguintes avaliações: 1) para a caracterização da amostra foram realizadas as avaliações antropométricas que seguiram os procedimentos definidos em Petroski (2007), 2) teste incremental de corrida intermitente (TCAR) para determinação de índices aeróbios, e 3) teste anaeróbio de sprints repetidos (40-m MST) para determinação de índices anaeróbios, precedidos de alongamento e aquecimento.
Todo o período de estudo aconteceu durante a temporada competitiva da periodização e foram incorporados na rotina diária de treinamento da equipe, aplicados no mesmo horário do dia e local para todos os indivíduos, sempre respeitando um intervalo mínimo de 24 horas, sendo que todos os sujeitos foram orientados para comparecerem alimentados e hidratados para realização das avaliações.

Protocolo de determinação dos índices aeróbios
Para determinação da capacidade aeróbia (VPDFC) e potência aeróbia (PV) os jogadores foram submetidos ao protocolo do teste incremental de corrida intermitente TCAR (DA SILVA et al., 2011; DITTRICH et al., 2011). O TCAR é um teste incremental máximo, do tipo intermitente escalonado, com multi-estágios de 90 s de duração em sistema “ida-e-volta”, constituído de 5 repetições de 12 s de corrida (distância variável), intercaladas por 6 s de caminhada (± 5 m). O ritmo é ditado por um sinal sonoro (bip), em intervalos regulares de 6 s, que determinam a velocidade de corrida a ser desenvolvida nos deslocamentos entre as linhas paralelas demarcadas no solo e também sinalizadas por cones. O teste inicia com velocidade de 9,0 km·h-1 (distância inicial de 15 m) com incrementos de 0,6 km·h-1 a cada estágio até a exaustão voluntária, mediante aumentos sucessivos de 1 m a partir da distância inicial.  A frequência cardíaca (FC) foi registrada ao final de cada estágio por meio de um frequencímetro (POLAR, modelo S610i, Kempele, Finlândia) para posterior cálculo do PDFC, por meio do método matemático Dmax (Kara et al., 1996). A capacidade aeróbia foi identificada através da velocidade referente ao PDFC (VPDFC). O PV foi determinado como a maior velocidade alcançada pelos atletas durante o teste.

Protocolo de determinação dos índices anaeróbios   
Para determinação das variáveis anaeróbias (melhor tempo – MT, tempo total – TT e índice de fadiga - IF) foi realizado o teste anaeróbio de sprints repetidos (40-m MST) (BAKER; RAMSBOTTOM; HAZELDINE, 1993). O protocolo consiste em 8 sprints de 40 m com duas mudanças de sentido de 180º cada  e período de recuperação de 20 s entre cada sprint. O atleta iniciou o teste no ponto médio entre 20 m, marcado por um par de fotocélulas eletrônicas (CEFISE, modelo Speed Test 6.0, São Paulo, Brasil). Em seguida o mesmo correu 10 m até a primeira marca, retornou e correu 20 m em sentido oposto até a segunda marca e correu 10 m até passar novamente pelas fotocélulas. O IF foi calculado por meio da equação IF = [(Σ 8TEMPOS / MT * 8) -1] * 100 (FITZSIMONS et al., 1993).
Para determinação do lactato máximo (LACmax) foram coletadas amostras de 25 µL de sangue do lóbulo da orelha com auxílio de um capilar heparinizado, após o 1º, 3º, 5º, 7º e 10º minutos de recuperação, o qual foi armazenado em microtubos de polietileno com tampa (Eppendorff), sendo posteriormente realizada a análise em um analisador bioquímico (YSI 2700, modelo Stat Select, OH, EUA). O LACmax foi considerado o valor de pico da concentração de lactato obtido durante o período de recuperação.

Tratamento estatístico

O programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS 15.0 for Windows) foi utilizado para a análise estatística. Foi empregada a análise descritiva (média e desvio-padrão) para apresentação dos valores, seguido do teste de Shapiro-Wilk (n<50 a="a" as="as" correla="correla" dados.="dados." de="de" dos="dos" empregada="empregada" entre="entre" es="es" examinar="examinar" foi="foi" i="i" ltipla="ltipla" m="m" normalidade="normalidade" o="o" para="para" pearson="pearson" produto-momento="produto-momento" regress="regress" rela="rela" utilizada="utilizada" vari="vari" veis.="veis." verificar="verificar">stepwise
) para verificar quais índices fisiológicos determinam o PV, incluindo as variáveis anaeróbias (MT, TT e IF) e a variável aeróbia do teste TCAR (VPDFC). Nível de significância adotado foi de p< 0.05.

RESULTADOS

Na tabela 1 estão apresentados os resultados dos índices relacionados à potência (PV) e capacidade aeróbia (VPDFC) obtidos no teste TCAR; e os índices de capacidade anaeróbia alática (MT) e lática (TT, IF, LACMax) observados no teste anaeróbio de sprints repetidos. Pode-se observar que o PV obteve correlação significativa com o VPDFC (p< 0,01); com o MT (p< 0,05), o TT (p< 0,01) e o IF (p< 0,05). Entretanto, o LACMax não apresentou correlação com o PV (tabela 2). Apesar de significante a correlação do PV com IF, estes não mostraram associação segundo a análise de regressão (Tabela 3).

De acordo com os resultados obtidos pela análise de regressão múltipla, o TT foi o índice que, sozinho, explicou 36% da performance do PV. Selecionados como segundo modelo pela análise stepwise o TT mais o MT demonstraram uma contribuição de 52% para o PV. Ainda, o TT, mais o MT e a VPDFC determinam 75% da variação do PV.



FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O objetivo desta pesquisa foi analisar a contribuição dos índices determinados no teste anaeróbio de sprints repetidos e do limiar anaeróbio (VPDFC) no pico de velocidade em jogadores jovens de futsal. Dessa forma, o principal achado desse estudo foi que os índices anaeróbios de capacidade lática e alática (TT e MT, respectivamente) juntamente com o índice de capacidade aeróbia (VPDFC) explicam 75% da performance do PV. Ainda, quando observados somente as variáveis de MT e TT a contribuição destes índices para o PV foi de 52%. Dessa forma, os resultados estão de acordo com a hipótese do presente estudo demonstrando a contribuição desses índices na potência aeróbia máxima de atletas de futsal.
O PV obtido no teste de campo TCAR já demonstrou reprodutibilidade e validade para mensurar a performance aeróbia em atletas de futebol e futsal (DA SILVA et al., 2011; DITTRICH et al., 2011). Recentemente, Da Silva et al. (2011) avaliando jogadores juniores de futebol demonstraram que o PV foi significativamente correlacionado com a velocidade do consumo máximo de oxigênio (vVO2max; r = 0.74, p < 0.01) e que coeficiente intraclasse do TCAR foi de 0,94 e o coeficiente de variação de 1.4%, confirmando assim a reprodutibilidade do mesmo.  Dittrich et al. (2011) por sua vez avaliaram 30 atletas de futebol (n = 18) e futsal (n = 12) e encontraram uma correlação significativa do PV com a vVO2max (r = 0.55, p < 0.01). Ainda, Nascimento et al. (2011) realizaram um estudo com 12 atletas de futsal da categoria sub-20 que evidencia os dados anteriores demonstrando uma correlação significativamente alta do PV do TCAR com a vVO2max (r = 0.91, p < 0.01). Portanto este índice é valido e confiável para avaliar a potência aeróbia máxima de jogadores de futsal.
Da mesma forma, a VPDFC pode ser uma maneira adequada para predizer o limiar anaeróbio e avaliar a capacidade aeróbia de atletas de modalidades coletivas de caráter intermitente (DA SILVA et al., 2011; DITTRICH et al., 2011; NASCIMENTO et al., 2011). Este índice contribui para performance aeróbia máxima de atletas jovens de futsal, explicando em torno de 25% da variação do PV e estando correlacionado com o mesmo significativamente (r = 0.80, p < 0.01), sendo que esta capacidade é imprescindível para recuperar os estoques intramusculares de energia durante os esforços de alta intensidade (MEDINA et al., 2002).
Da Silva et al. (2011) em seu estudo já citado anteriormente, demonstraram correlações significantes do PV com o MT (r = 0.51, p < 0.01) e com o tempo médio (TM; capacidade anaeróbia lática; r = 0.71, p < 0.01) obtido no teste de sprints repetidos, corroborando com os achados da presente investigação que demonstrou relações similares (MT r = -0.48; TT r = -0.69). Estes autores observaram que a vVO2max juntamente com o TM contribuiu em 73% na performance do PV.
No presente estudo não foi realizado teste incremental em laboratório o que dificulta as comparações, porém levando em conta que Da Silva et al. (2011) encontraram que vVO2max isoladamente explicou 54% do PV pode-se supor  que o TM contribui em torno de 20% no PV de jogadores de futebol do estudo citado. Assim, parece que a capacidade anaeróbia lática determina um percentual maior da performance do PV em atletas de futsal, visto que, o TT sozinho demonstrou uma contribuição de 36% para o PV. Ainda, quando adicionada a capacidade anaeróbia alática (MT) este percentual aumentou para 52% ressaltando a grande importância destas variáveis na performance de jogadores de futsal.
Isto suporta que as características intermitentes do TCAR possibilitam a avaliação dos aspectos anaeróbios, levando também em conta as relações existentes entre o PV e o melhor tempo, tempo total e o índice de fadiga, obtidos no teste anaeróbio de sprints repetidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados encontrados neste estudo que demonstraram a contribuição da capacidade anaeróbia lática e alática para a potência aeróbia máxima, ressalta-se que aspectos anaeróbios de jovens jogadores de futsal são de suma importância para a performance aeróbia dessa modalidade, visto que, essas qualidades físicas são imprescindíveis considerando as características do esporte.

REFERÊNCIAS

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