domingo, 19 de julho de 2015

RELAÇÃO ENTRE A CINÉTICA DE VO2 E A CAPACIDADE DE SPRINTS REPETIDOS EM ATLETAS DE FUTSAL continuação

Nos esportes coletivos, nesse caso especificamente o futsal, sprints e habilidade de realizar estes repetidamente (repeated-sprint ability - RSA) são um dos principais fatores de performance física. O desempenho em testes de RSA requer a maior velocidade durante o primeiro sprint e a manutenção desta nas repetições subsequentes (DUPONT et al., 2010). Podem ser definidos dois tipos de RSA, os exercícios de sprints intermitentes (IRS) podem ser caracterizados por esforços de curta duração (≤ 10 s) intercalados por períodos de recuperação com tempo suficiente (60-300 s) para alcançar uma recuperação completa da performance de sprint. Em comparação os exercícios de sprints repetidos (RSE) também são caracterizados por esforços de curta duração (≤ 10 s), porém com períodos breves de recuperação (≤ 60 s). A maior diferença é que nos sprints intermitentes existe um pequeno ou nenhum percentual de decréscimo nos sprints (Sdec), enquanto que nos sprints repetidos é possível identificar um alto Sdec (GIRARD; MENDEZ-VILLANUEVA; BISHOP, 2011). Além disso, a performance na RSA é determinada pela capacidade aeróbia (OBLA), potência aeróbia máxima (VO2max) e a potência anaeróbia (DA SILVA; GUGLIELMO; BISHOP, 2010).
Alguns estudos têm demonstrado correlação significante entre o consumo máximo de oxigênio (VO2max) e a RSA em atletas de futebol (BISHOP; SPENCER, 2004; DUPONT et al., 2005; DA SILVA; GUGLIELMO; BISHOP, 2010). Entretanto, este assunto ainda é controverso com alguns autores não encontrando relações significativas entre o VO2max e a capacidade de repetir sprints (BISHOP; LAWRENCE; SPENCER, 2003; CASTAGNA et al., 2007; AZIZ et al., 2007). Estas diferenças nos resultados podem derivar do protocolo escolhido, e mais especificamente do numero e duração dos sprints, duração ou intensidade da recuperação (DUPONT et al., 2010).
Tomlin e Wenger (2001) sugerem que um elevado consumo de O2 durante os sprints resulta numa menor utilização da glicólise anaeróbia e uma melhor manutenção da força. Assim um rápido ajuste do VO2 no início do exercício, ou seja, uma cinética acelerada poderá direcionar a uma maior contribuição da fosforilação oxidativa e um menor déficit de O2Ainda são poucos os estudos disponíveis na literatura que se propuseram investigar a relação da cinética de VO2 com a RSA em atletas de esportes coletivos. Entre estes, destaca-se o estudo de Dupont et al. (2005) que avaliou 11 atletas de futebol com o objetivo de analisar a cinética on do VO2 realizada em exercício de intensidade moderada (60 % da máxima velocidade aeróbia) e encontrou relação do Sdec e do tempo total (TT) no teste de sprints repetidos (15 x 40 m, 25 s de recuperação ativa) com a constante tempo (t) da fase fundamental. Estes mesmos pesquisadores em um estudo posterior encontraram relação da t  na resposta off do VO2 em exercício severo (120 % da máxima velocidade aeróbia) com o Sdec ­no teste RSA (7 x 30 m, 20 s de recuperação ativa) em doze jogadores de futebol (DUPONT et al., 2010).



Além disso, Rampinini et al. (2009) realizaram um estudo utilizando um protocolo de cinética com características idênticas ao de Dupont et al. (2005) e demonstraram correlações significantes entre a constante  t na fase fundamental com o tempo médio (TM) e o Sdec em um teste RSA com atributos que podem gerar uma maior acidose metabólica (6 x 40 m, 20 s de recuperação passiva) em 23 jogadores profissionais de futebol. Assim, pode-se sugerir que os indivíduos que possuem ajustes mais rápidos do VO2 alcançando um fornecimento de energia predominantemente através do metabolismo oxidativo e diminuindo o déficit de O2 teriam uma melhor performance de RSA. Entretanto, alguns questionamentos quanto a este assunto ainda persistem e ainda não está clara a relação da RSA com a cinética de consumo de oxigênio.

Fiquem Com Deus e até a próxima!

AZIZ, A. R.; MUKHERJEE, S.; CHIA, M. Y.; THE, K. C. Relationship between measured maximal oxygen uptake and aerobic endurance performance with running repeated sprint ability in young elite soccer players. Journal Sports Medicine Physical Fitness, v. 47, n. 4, p. 401–407, 2007.
BISHOP, D.; LAWRENCE, S.; SPENCER, M. Predictors of repeated-sprint ability in elite female hockey players. Journal Science Medicine Sport, v. 6, n. 2, p.199–209, 2003.
BISHOP, D.; LAWRENCE, S.; SPENCER, M. Predictors of repeated-sprint ability in elite female hockey players. Journal Science Medicine Sport, v. 6, n. 2, p.199–209, 2003.
CASTAGNA, C.; MANZI, V.; D’OTTAVIO, S.; ANNINO, G.; PADUA, E.; BISHOP, D. Relation between maximal aerobic power and the ability to repeat sprints in young basketball players. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 21, n. 4, p. 1172–1176, 2007.
DA SILVA, J. F.; GUGLIELMO, L. G. A.; BISHOP, D. Relationship between different measures of aerobic fitness and repeated-sprint ability in elite soccer players. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 24, n. 8, p. 2115–2121, 2010.
DUPONT, G.; MILLET, G. P.; GUINHOUYA, C.; BERTHOIN, S. Relationship between oxygen uptake kinetics and performance in repeated running sprints. European Journal Applied Physiology, v. 95, n. 1, p. 27–34, 2005.
DUPONT, G.; MCCALL, A.; PRIEUR, F.; MILLET, G. P.; BERTHOIN, S. Faster oxygen uptake kinetics during recovery is related to better repeated sprinting ability. European Journal Applied Physiology, v. 110, n. 3, p. 627–634, 2010.
GIRARD, O.; MENDEZ-VILLANUEVA, A.; BISHOP, D. Repeated-sprint ability – part 1: factors contributing to fatigue. Sports Medicine, v. 41, n. 8, p. 673 -694, 2011.
RAMPININI, E.; SASSI, R.; MORELLI, A.; MAZZONI, S.; FANCHINI, M.; COUTTS, A. J. Repeated-sprint ability in professional and amateur soccer players. Applied Physiology Nutrition Metabolism, v.34, n.6, p.1048-54, 2009.
TOMLIN, D. L.; WENGER, H. A. The relationship between aerobic fitness and recovery from high intensity intermittent exercise. Sports Medicine, v. 31, n. 1, p. 1 – 11, 2001.