Gostaria de compartilhar com vocês
nessa postagem algumas respostas sistêmicas do sistema cardiovascular e
respiratório no início do exercício de corrida. Na verdade vou buscar mostrar
de uma maneira básica e introdutória alguns conceitos sobre o estudo da
cinética (Estudo da velocidade e o mecanismo das reações fisiológicas e os
fatores que atuam sobre elas; a análise do comportamento das curvas), ou melhor
dizendo do comportamento do organismo em determinado estímulo. Vale lembrar
que o comportamento do consumo de oxigênio (VO2) durante atividades físicas de
diferentes magnitudes difere conforme há um aumento na intensidade de exercício
(XU; RHODES, 1999) e pode apresentar uma relação curvilínea quando realizado de
forma incremental, ou exponencial se obtido em velocidades constantes (DENADAI;
CAPUTO, 2003). A cinética do VO2, portanto, pode ser considerada o
estudo dos mecanismos fisiológicos responsáveis pela dinâmica das respostas do
VO2 ao exercício e sua
subsequente recuperação (JONES; POOLE, 2005).
Vamos
tratar da resposta do VO2 e
os ajustes cardiovascular da frequência cardíaca (FC) e
respiratório da ventilação pulmonar (VE). Além disso, abordar sobre o
comportamento do pulso de O2 (O2pulse) que representa o
comportamento do fluxo sanguíneo e pode-se a partir desta variável fazer
inferências sobre o volume sistólico, calculado pela razão entre VO2/FC
(a divisão do consumo de O2 pelo numero de batimentos cardíacos).
Observemos a figura 1 que demonstra o comportamento de todas estas variáveis
nos seis primeiros minutos do exercício.
Esta
figura demonstra o comportamento do VO2 em relação a FC, VE e O2pulse
para um sujeito representativo. A intensidade de corrida na esteira foi no D50, ou seja, 50% da diferença entre o primeiro limiar (ventilatório)
e o consumo máximo de oxigênio (VO2max), por volta de 85% do VO2max.
Podemos situar esta intensidade no domínio pesado de esforço próxima ao limite
superior deste. No eixo y está o percentual obtido para cada variável em relação
aos seus valores máximos (obtidos em um teste incremental) que estão
demonstrados no canto inferior direito da figura. No eixo x está o tempo de
exercício.
Pode-se
destacar que todas estas variáveis tem um comportamento exponencial e a partir
de ajustes matemáticos monoexponenciais específicos podemos calcular o tempo de
resposta médio (mean response time – MRT),
valores que aparecem dentro da figura em segundos. Importante ressaltar que,
multiplicando o MRT por 4,6 obtemos o tempo que leva para atingir (TA) a
estabilização de cada curva. Dessa forma, para o VO2 foi de 216,2 s;
para a FC de 274,2 s; para a VE de 311,8 s e; para o O2pulse de 102,6
s. Destaca-se ainda, a resposta rápida do O2pulse que logo alcança
uma estabilização em seus valores máximos, ou seja, o fluxo sanguíneo direciona
uma oferta de O2 totalmente disponível de maneira maximizada para o
exercício em menos de dois minutos. O VO2 vai encontrar um estado estável em um pouco mais do
que 3 minutos e meio para este indivíduo buscando suplementar a demanda de
energia através da fosforilação oxidativa (sistema aeróbio de produção de energia). A FC demora um pouco mais, pois
existe um chamado “drift” da FC por causa da carga imposta a musculatura cardíaca
com o aumento do débito cardíaco. A VE demora ainda mais, pois o sistema
respiratório é ativado aumentado a mesma para que consiga auxiliar no sistema
de tamponamento, ou seja diminuir a acidose metabólica, conduzindo o CO2 produzido
para fora do organismo.
Podemos observar nas figuras seguintes a comparação do comportamento da curva de VO2 com cada uma das outras variáveis em em seus valores medidos realmente, onde fica clara a resposta de uma oferta de O2 (O2pulse) mais rápida no início do exercício com a FC e a VE trabalhando como 'suporte' para a demanda imposta de forma mais lenta a buscar uma estabilização em relação ao VO2 e ao O2pulse.
Por hoje era isso pessoal, até a próxima e fiquem Deus. Abraços.
Referências
DENADAI, B. S.; CAPUTO, F. Efeitos do
treinamento sobre a cinética de consumo de oxigênio durante o exercício
realizado nos diferentes domínios de intensidade esforço. Motriz, v. 9, n. 1, (Supl.), p. S1 – S7, 2003.
JONES, A. M.; POOLE,
D. C. Introduction to oxygen uptake kinetics and historical development of the
discipline. In: Jones, A. M.; Poole, D. C. (org.). Oxygen uptake kinetics in sports, exercise and medicine. 1ª ed.
Abingdon: Routledge, 2005.
XU, F.;
RHODES, E. C. Oxygen uptake kinetics during exercise. Sports Medicine, v. 27, n. 5, p. 313-327, 1999.