Recebi um email ainda no ano passado na época de festas de uma pessoa que admiro e que conheci durante minha vida acadêmica o prof Dr. Ubirajara Oro, desculpe-me a expressão, "uma mente incrível", e como durante a temporada de verão sempre fico um tanto off, resolvi postar como primeira publicação do ano esta mensagem!
Um grande abraço ao amigo professor e mestre e espero que muitos possam refletir sobre este texto.
Minha querida Amiga, meu querido Amigo
Quando celebrar a chegada do primeiro filho de Maria e José for o motivo maior para festejarmos o Natal e também o Ano Novo, as alegrias que então sentirmos vão parecer-nos mais sublimes, porque hão de estar mais próximas da felicidade genuína, aquela felicidade que o Menino da Paz veio ensinar-nos a conseguir.
Na prática, felicidade rima melhor com paz do que com facilidade. Com efeito, a paz que Jesus apregoou aos homens, tem sede no coração universal que pulsa pelo coração do ser absoluto de Deus. E Deus é uma fonte inesgotável de felicidade. Aliás, Ele tem que ser assim, ou não seria Deus. Porém, sendo tão preciosa por ser divina, a paz feliz de Deus implica uma conquista de cada um de nós. Quero dizer que o preço das coisas, seja qual for a natureza delas, corresponderá ao seu valor respectivo, seja qual for a natureza dele.
Por isso, é justo e mesmo lógico que as coisas divinas sejam as mais caras, logo inalcançáveis via facilidade. Elas requerem o mais difícil entre todos os nossos talentos: o da autopromoção interior, que nos virá a cada passo com intenção solidária, em direção aos outros e a nós próprios, que conseguirmos dar. São passos não muito fáceis, porque contrários à nossa natureza primária que se mostra egocêntrica e comodista. Em qualquer caso, dar tais passos supõe uma decisão radicalmente solitária e necessariamente espontânea, num processo gradativo que, embora de longe, lembra aquele que o sábio suíço Jean Piaget chamava de "centrifugação do eu".
No nosso mundo dos homens, cada um de nós termina sendo avaliado e valorizado, mais por aquilo que faz do que por aquilo que é. Para os homens, portanto, a simples condição humana não basta. É preciso predicá-la, para que ela incorpore valor. Com o Jesus de Nazaré histórico e portanto humano, não há de ter sido diferente. A linda alcunha de "Príncipe da Paz" que os Seus seguidores Lhe demos, não é uma gratuidade qualquer. Ao contrário, ela traduz no seu próprio rótulo, o reconhecimento social de um mérito efetivo.
Eu creio que Jesus de Nazaré foi, dentre vários pretendentes históricos já identificados, o único homem do Seu tempo a estar capacitado para assumir a condição do Messía, ou do Xristós. Tanto na língua hebraica quanto na grega, Ele acabou sendo aclamado o "Ungido do Senhor Deus". E ungido significa ter sido escolhido e enviado ao encontro dos homens, para libertá-los e redimi-los da sua pequenez humana. Jesus ascendeu a Cristo, para trazer-nos a esperança de uma vida eterna e plena da paz celestial, que receberemos todos os que soubermos viver com boa-vontade.
Creio também, que Jesus se revela o Cristo, tanto nos Seus atos coerentes quanto nas Suas palavras de sabedoria. Para mim, terá sido bem e até mais por essa coerência na condução da Sua própria vida, que Ele convenceu tantos corações e mentes, ao longo de dois milênios de história, chegando hoje a ser notícia para dois terços dos sete bilhões de pessoas que povoam a Terra.
Aliás, Jesus passou toda a Sua vida bendita a dar, pelo exemplo praticado, o melhor testemunho que pude encontrar, da profundidade ética e da validade universal de uma simples e lacônica advertência: "As palavras movem; os exemplos arrastam!". Na verdade uma densa lição para toda a vida, essa breve advertência eu ouvi pela primeira vez ainda criança, na voz confiante e confiável da minha mãezinha, a veneranda e para mim imortal Profª Iracema Pilar Oro.
Ao longo de toda a vida de professor, vim e continuo apostando nessa lição, bem assim confiando não estar equivocado por isso. Acredito nela, com inteira sinceridade. Toda vez que a tenho presente, ela volta a remeter-me ao Cristo, a cuja pedagogia de ação e reflexão procuro referir a minha própria. Creio que o Seu exemplo de coerência rigorosa entre o proferir e o agir tem conseguido me arrastar, mesmo que aos pouquinhos, para sempre mais perto daquilo que Ele nos ensinou e recomendou.
Em todo caso, importa-me hoje menos, que essa impressão de estar sendo arrastado pelos bons exemplos do Cristo seja mera presunção ou ilusão minha. Afinal, como o homem ainda bem distante da coerência e até mesmo inconseqüente que amiúde me flagro sendo, não admito reivindicar de Deus algum direito eventual a ser arrastado na Sua direção. Importa-me muito mais, empenhar forças e consciência, para tentar por em prática as lições de condução de vida que me parecem válidas, ao prometerem conduzir a Ele. Para meu governo, o dever vem antes do direito.
Tal qual me ensinou há anos um filósofo português, de quem continuo admirando a lúcida sabedoria, a vida humana é mais um valor subjetivo do que um fato objetivo. A essa lição que recebi de Manuel Sérgio Vieira e Cunha, arrisco acrescentar aqui: um valor que é dom, por ser uma doação generosa e sem torna, de Deus a cada um de nós.
Minha querida Amiga, meu querido Amigo, Você já se perguntou alguma vez qual o motivo maior dos Seus festejos de Natal e de Ano Novo?
Prof. Dr. Ubirajara Oro