Nos esportes
coletivos, nesse caso especificamente o futsal, sprints e habilidade de realizar estes repetidamente (repeated-sprint ability - RSA) são um
dos principais fatores de performance
física. O desempenho em testes de RSA requer a maior velocidade durante o
primeiro sprint e a manutenção desta
nas repetições subsequentes (DUPONT et al., 2010). Podem ser definidos dois
tipos de RSA, os exercícios de sprints intermitentes
(IRS) podem ser caracterizados por esforços de curta duração (≤ 10 s)
intercalados por períodos de recuperação com tempo suficiente (60-300 s) para
alcançar uma recuperação completa da performance
de sprint. Em comparação os
exercícios de sprints repetidos (RSE)
também são caracterizados por esforços de curta duração (≤ 10 s), porém com
períodos breves de recuperação (≤ 60 s). A maior diferença é que nos sprints intermitentes
existe um pequeno ou nenhum percentual de decréscimo
nos sprints (Sdec), enquanto que nos sprints repetidos é possível identificar
um alto Sdec (GIRARD; MENDEZ-VILLANUEVA;
BISHOP, 2011). Além disso, a performance
na RSA é determinada pela capacidade aeróbia (OBLA), potência aeróbia máxima
(VO2max) e a potência anaeróbia (DA SILVA; GUGLIELMO; BISHOP, 2010).
Alguns estudos têm demonstrado correlação
significante entre o consumo máximo de oxigênio (VO2max) e a RSA em
atletas de futebol (BISHOP; SPENCER, 2004; DUPONT et al., 2005; DA SILVA;
GUGLIELMO; BISHOP, 2010). Entretanto, este assunto ainda é controverso com alguns
autores não encontrando relações significativas entre o VO2max e a
capacidade de repetir sprints
(BISHOP; LAWRENCE; SPENCER, 2003; CASTAGNA et al., 2007; AZIZ et al., 2007).
Estas diferenças nos resultados podem derivar do protocolo escolhido, e mais
especificamente do numero e duração dos sprints,
duração ou intensidade da recuperação (DUPONT et al., 2010).
Tomlin e Wenger (2001) sugerem
que um elevado consumo de O2 durante os sprints resulta numa menor utilização da glicólise anaeróbia e uma
melhor manutenção da força. Assim um rápido ajuste do VO2 no início
do exercício, ou seja, uma cinética acelerada poderá direcionar a uma maior
contribuição da fosforilação oxidativa e um menor déficit de O2. Ainda
são poucos os estudos disponíveis na literatura que se propuseram investigar a
relação da cinética de VO2 com a RSA em atletas de esportes
coletivos. Entre estes, destaca-se o estudo de Dupont et al. (2005) que avaliou
11 atletas de futebol com o objetivo de analisar a cinética on do VO2 realizada em
exercício de intensidade moderada (60 % da máxima velocidade aeróbia) e
encontrou relação do Sdec e do tempo total (TT) no teste de sprints repetidos (15 x 40 m, 25 s de
recuperação ativa) com a constante tempo (t) da fase fundamental. Estes mesmos pesquisadores em
um estudo posterior encontraram relação da t
na resposta off do VO2 em exercício
severo (120 % da máxima velocidade aeróbia) com o Sdec no teste RSA
(7 x 30 m, 20 s de recuperação ativa) em doze jogadores de futebol (DUPONT et
al., 2010).
Além disso, Rampinini et al.
(2009) realizaram um estudo utilizando um protocolo de cinética com características
idênticas ao de Dupont et al. (2005) e demonstraram correlações significantes
entre a constante
t na fase fundamental com
o tempo médio (TM) e o Sdec em um teste RSA com atributos que podem
gerar uma maior acidose metabólica (6 x 40 m, 20 s de recuperação passiva) em 23
jogadores profissionais de futebol. Assim, pode-se sugerir que os indivíduos
que possuem ajustes mais rápidos do VO2 alcançando um fornecimento
de energia predominantemente através do metabolismo oxidativo e diminuindo o
déficit de O2 teriam uma melhor performance
de RSA. Entretanto, alguns questionamentos quanto a este assunto ainda
persistem e ainda não está clara a relação da RSA com a cinética de consumo de
oxigênio.
Fiquem Com Deus e até a próxima!
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